/12 PEDACINHOS DA GRÉCIA ANTIGA – 002 Prometeu e o surgimento da humanidade

12 PEDACINHOS DA GRÉCIA ANTIGA – 002 Prometeu e o surgimento da humanidade

PROMETEU E O SURGIMENTO DA HUMANIDADE

Houve um tempo em que deuses e homens se misturavam, faziam refeições juntos, comiam, bebiam, faziam festa, era um tempo feliz. Havia deusas imortais, mas ainda não havia mulheres, só homens. Estes homens não haviam nascido de mulheres, portanto. Talvez tivessem nascido de Gaia, a Mãe-Terra. Não precisavam trabalhar, não envelheciam, não morriam. Apenas adormeciam depois de centenas de anos de uma vida alegre, perfeita.

Mas deuses eram deuses e homens eram homens. Os deuses resolvem colocar cada um no seu lugar. Zeus, o chefão do Olimpo, é quem decide por ordem nessa confusão. Para estabelecer a separação, Zeus convoca Prometeu. Prometeu era um deus meio rebelde, indisciplinado até, mas muito esperto e inteligente e a questão exigia essas qualidades.

O problema era que Prometeu, embora deus imortal, era meio chegado aos homens, já que a sua situação era meio marginal. Havia entre Prometeu e os homens uma espécie de solidariedade. É aí que o caldo vai entornar.

Prepara-se um ritual. Uma espécie de churrasco sagrado. Deuses e homens são reunidos para o sacrifício de um animal, um enorme touro. Caberá a Prometeu retalhar o animal e dar a deuses e homens a parte que cabe a cada um. O ritual sela e estabelece de vez a separação entre deuses e homens.

Acontece que Prometeu era malandrinho. Depois de cortar e destrinchar o animal de sacrifício, Prometeu faz dois montes. No primeiro, coloca os ossos, somente os ossos, mas recobertos de uma apetitosa camada de gordura. No outro monte, coloca todas as carnes suculentas, mas põe por cima o couro do animal e coloca tudo no bucho do touro, algo feio e desagradável de se ver.

A seguir, Prometeu apresenta os dois montes a Zeus, para que este escolha a parte que caberia aos deuses. Zeus acha graça, pensando que Prometeu havia feito uma escolha muito desigual, coitados dos homens. E escolhe o monte recoberto por gordura. Quando descobre que só havia ossos, Zeus fica furioso. Ele era o mais poderoso dos deuses, bastava mexer a sobrancelha para o mundo tremer, mas fora enganado pela esperteza de Prometeu, um deus de segunda categoria.

Aquilo não iria ficar assim. Zeus decide virar o jogo no segundo tempo. Só para começar, esconde o fogo dos homens, bem como o trigo. De uma só tacada, os homens ficam sem poder cozinhar seus alimentos e sem o trigo para fazer o pão. Claro que Prometeu contra-ataca, subindo disfarçado ao Olimpo e roubando o fogo de Zeus.

Impossível descrever o quanto Zeus ficou furioso. Mas desta vez resolveu revidar com a mesma arma de Prometeu: a esperteza, a astúcia. Foi aí que Zeus resolveu lançar mão de uma arma poderosa e inventou a mulher.

Zeus convoca um time de deuses habilidosos para participar do plano. Encomenda uma fêmea humana, virgem, pronta para casar. Hefesto a modela com um belo corpo e um lindo rosto. Hermes lhe dá a voz humana. Afrodite a veste e enfeita de forma sedutora. Ela resplandece de beleza e encanto. Qualquer um ficaria maravilhado e apaixonado em vê-la. Uma armadilha perfeita.

Apesar de toda essa beleza, Hermes, o deus mais ambíguo e traiçoeiro, fizera com que essa mulher fosse mentirosa e enganadora. O nome dela era Pandora, ou seja, aquela que tem todas as qualidades.

Prometeu, é lógico, já estava desconfiado que Zeus não iria deixar barato. Por isso, avisou seu irmão Epimeteu, que era meio distraído: cuidado com os presentes, não receba nada de Zeus. Mas quando Pandora bate à porta de Epimeteu, ele não quer saber de nada: amor à primeira vista. E assim Pandora penetra no mundo dos homens.

E faz um estrago terrível. Até então os homens viviam bem. Tudo que havia de bom era guardado em uma caixa bem fechada, com a alegria, a tranquilidade, a paz. Pandora, curiosa e encarregada de efetuar a vingança de Zeus, abre a caixa e deixa todos os bens escaparem. Reza a lenda que somente a esperança, última amiga dos homens, ficou se segurando, penduradinha na tampa da caixa.

Pandora representa a passagem para o que somos: homens nascidos de mulheres, que têm que trabalhar para conseguir o pão e que conhecem as agruras da doença, do envelhecimento e da morte. O que este mito nos diz é que os deuses vivem no Olimpo e nós vivemos na Terra. Antes de mais nada temos que ter a humildade de reconhecer a nossa condição humana.