/A leitora da sorte – Georges de La Tour

A leitora da sorte – Georges de La Tour

MIRE E VEJA

A LEITORA DA SORTE, Georges de La Tour (1593-1652)

O rapaz com rostinho de bebê, faces rosadas e ricamente vestido presta atenção à velha cigana que no extremo direito do quadro começa a ler a sua mão. A velha atrai totalmente a atenção do jovem, talvez lhe contando acerca de alguma previsão ruim. Nas mãos ela tem uma moeda de ouro que é o pagamento pelo serviço e com a qual ela irá cruzar a mão do rapaz em um ritual típico daquela prática. O rapaz olha entre preocupado e desconfiado. Enquanto isso, a jovem cigana à esquerda aproveita para bater-lhe a carteira. E a bela moça localizada entre ele e a velha, e que talvez tenha servido de isca, rouba-lhe o cordão e mantém mira o rapaz com o rabo de olho, para perceber vigiá-lo. Os especialistas notam que La Tour faz tudo para que os retratados estejam praticamente nos olhando de frente. Por conta disso, é possível que a cena tenha se baseado numa peça. Os comentaristas também notam que apenas mãos e olhos se movimentam. E que há três contrastes principais: o já mencionado entre a aparente imobilidade e o movimento furtivo, entre a inocência e a esperteza e entre a beleza da moça de pele branca e a feiúra da velha. A seriedade de todos os atores da cena não é à toa. A pena para o rapaz seria de excomunhão se fosse pego. Para as ladras seria muito pior: teriam suas duas orelhas cortadas, seriam torturadas e por vezes enforcadas e esquartejadas. Pela menor ofensa, ciganas e ciganos eram publicamente açoitados e banidos sem direito a julgamento no século XVII.

O mais interessante e engraçado é que este quadro esteve praticamente incógnito até 1949 quando foi comprado por um colecionador americano por 7,5 milhões de dólares. Em 1960 o quadro foi vendido para o Metropolitan Museum of Art por uma soma altíssima. Embora desde então tenha sido examinado e certificado por vários especialistas, há quem diga que ele é uma falsificação. Se for verdade, seria uma malandragem bem maior do que bater a carteira de um jovem.