/ARTE – MIRE E VEJA – AS SENHORITAS D’AVIGNON (1907) – Picasso (1881-1973)

ARTE – MIRE E VEJA – AS SENHORITAS D’AVIGNON (1907) – Picasso (1881-1973)

MIRE E VEJA

AS SENHORITAS D’AVIGNON (1907), Picasso (1881-1973)

Óleo sobre tela, 243,9 x 233,7, Museum of Modern Art, Nova York

Só mesmo aquele ousado e auto-confiante pintor espanhol de apenas 26 anos para ter a coragem de pintar um quadro daqueles. Um tal de Pablo Picasso. O nome remete a um bordel de Barcelona e nós temos cinco prostitutas nuas encarando e desafiando o espectador ou espectadora. Para piorar, é uma tela de grandes dimensões, mais de dois metros tanto de largura quanto de altura, o que faz com que as “senhoritas” imponham-se com muita força.

Na extrema esquerda temos uma cabeça pintada na tradição egípcia: rosto de perfil e olho de frente. No caso das duas mulheres mais à direita, não temos rostos e sim máscaras, fazendo elas parecerem totens. Pés e mãos são imensos, desproporcionais em relação ao corpo. Além delas, na parte de baixo do quadro há uma natureza morta, como se o pintor estivesse dizendo: vocês querem ao menos um elemento clássico? Aí está.

Este quadro chocou os contemporâneos. Eles consideraram a cena estranha e até aterrorizante. Um colecionador russo sai do atelier de Picasso chorando. O pintor Georges Braque, que também contribuiu para o cubismo disse a Picasso: “A sua pintura é como se você quisesse nos fazer beber petróleo comendo estopa em chamas.” Até mesmo pintores considerados de vanguarda achavam que Picasso havia ido longe demais.

Hoje em dia, há quem considere que a arte moderna nasceu com este quadro. Mas por que ele foi considerado tão revolucionário? Eis a explicação dada por Eliana Princi:

“Picasso faz uma verdadeira destruição da tradição pictórica ocidental. (…) Subverte as diferenças entre perto e longe, dentro e fora, renovando radicalmente a concepção de espaço. (…) Mistura fontes antigas – a estatuária egípcia, Michelangelo, relevos ibéricos, a Vênus de Milo, El Greco e os mosaicos paleocristãos de Ravena – à arte africana, ao expressionismo e ao amado Paul Cézanne. Picasso deforma de forma arbitrária a nudez feminina, sobre a qual insere máscaras grotescas e selvagens, exibe a feiúra e a monstruosidade em um contexto de aparente intimidade doméstica.”

Acho que há mais uma coisa. Este quadro inverte a situação tradicional: as mulheres não estão ali para serem vistas, olhadas, elas é que estão nos olhando.