/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 17. Os Com-egressos Científicos

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 17. Os Com-egressos Científicos

  1. Os Com-egressos Científicos

    Por falar em tradições, uma das mais arraigadas entre os sexólogos tupininquins eram os Com-egressos científicos. Quando não dava pra descolar uma bolsinha Malmequer ou um pós-pós-pós-pós-pós chateado no exterior, que tal uma viagenzinha para Floripa, Natal, Salvador ou Recife? Tinha que ser um lugar de praias bonitas, de preferência. Afinal, para que coisa serviam os com-egressos senão para pegar um bronze?

    Para debater trabalhos e trocar experiências? Nota-se que você, carx leitorx, é apenas um leigo, desconhecedor das novas meto-dor-logias científicas. Cada mesa de comunicações em um com-egresso tem umas 17 pessoas para uma sessão de duas horas. Por isso chamam este ritual de “apresentação de trabalhos”:

    – Meu nome é fulano e este é meu trabalho aqui, prazer em conhecer…
    – Obrigado, seu tempo terminou, quem é o próximo?

    De vez em quando, mesmo em tão pouco tempo, rolava uma afinidade epistemológica básica:

    – Meu trabalho gostou do seu… poderia me passar seu FoiceBuk?

    Há também, logicamente, as palestras com os grandes da sexologia kudomundense (há quem diga kudomundana). Você pode ver de perto um PhDeus. Pode respirar o mesmo ar que ele, veja bem. E até mesmo ouvi-lo falar durante umas duas horas. Sem que você entenda muita coisa, logicamente, porque eles falam em uma língua própria feita mesmo com esse propósito de não serem entendidos e sim, admirados. Mas que se dignem a vir até ali, fora do circuito Londres-Paris-Nova York para se dirigirem a mortais sem eira nem beira mostra a grandeza dos PhDeuses.

    – Palestra fantástica, que inteligência magnífica, que verve admirável, se eu tivesse entendido alguma coisa teria sido perfeita.

    Claro que deve haver uma contrapartida. Para desfrutarem de tão rica experiência, alunos de diversas castas, não-chateados, chateados e pós-chateadinhos tinham que pagar o preço. E não era nada barato. Além das despesas de viagem, havia a taxa de inscrição no com-egresso, as taxas de inscrição nos cursos, os livros que você acabava comprando, enfim, os alunos saíam de lá devidamente esfolados. Quem manda ter ainda que fazer seus pontinhos para trocar por cupons com direito ao sorteio para um dia ser um PhDeus?

    Dizer que os com-egressos científicos só serviam para pegar sol e fazer pontinhos seria uma tremenda injustiça da nossa parte. Todos sabem que eles existiam para que as associações científicas, como a ARANPUhca, por exemplo, ficassem a cada dia mais ricas.

    Havia os ingênuos que esperavam desses órgãos manifestações políticas contra o produtivismo e a destruição da vida universitária. Havia até quem jurasse que isto já havia ocorrido no passado. Mas o passado, todos sabem, é apenas uma prisão, devemos nos libertar dele e viver no presente, de preferência em tempo real, se não houver uma moeda mais forte tipo dólar ou euro. Porque o fraco de umx sexólogx de Kud Omundo, todo mundo sabe, é uma moeda forte, ui…