/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 19. ATÉ TU, KURRICULOLATTES?

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 19. ATÉ TU, KURRICULOLATTES?

19. Até tu, Kurriculolattes?

Assim se dá com as lendas. À parte um tema básico, existem as variações. O que se sabe, mais ou menos com certeza, é que Játenhoaté Kurriculolattes realmente se ergueu como uma montanha de turvo aspecto e foi no encalço de Hernando, que com aquele gol de cabeça havia decretado a derrota e o que é pior, a chacota generalizada em torno dos antes todo poderosos cracks de laboratório.

Teria Kurriculolattes a intenção de matar ou pelo menos dar uma surra inesquecível em Hernando NãovouficarCalado? O nosso super-herói conseguiria sair vivo desta? É o que vai se revelar agora. A vida sim, é que é uma caixinha de surpresas, por isso o Bobobol faz tanto sucesso. Pois bem, paremos de enrolar e vamos direto ao que aconteceu:

– Hernando? disse Játenhoaté pegando no braço do seu carrasco para obrigá-lo a se virar e conversar com ele

NãovouficarCalado, que honrava o sobrenome, respondeu na lata, sem demonstrar qualquer temor e jeito insolente:

– Qualé, animal pontuado?

Na realidade, nosso herói avaliava suas chances friamente: não havia para onde correr, a rapaziada do ônibus tava chapadona de diamba, o motorista tava lá na frente sem ouvir nada, aquelas janelinhas eram meio pequenas pro cara se jogar, podia até ficar entalado, o que seria o fim da sua re-puta-ação. Decidiu encarar, sempre lembrando Walter Franco:

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo

– Sabe aquela hora do jogo, Hernandinho, em que seguraste a minha documentação? E não era a documentação em cinco vias necessária a fazer a prova da pós-chateação, estou falando daquilo que eu tenho entre as pernas…

– Aquela insignificância? Indagou provocativo o Hernando, que começava a perceber que algo diferente estava acontecendo…

– Pois é, o importante foi que naquela hora eu senti algo que nunca havia sentido…

– Sei Kurri, sei…

– Ali eu vi se revelar a minha homossexualidade em todo seu esplendor …

Pausa para respirar e pensar. NãovouficarCalado já havia ultrapassado aquela fase. Ele se definia como pansexxxual. Até as árvores do cancrus balançavam as folhas quando ele passava. Reza outra lenda que vivia abraçando animais variados, onde houvesse amor lá estava nosso NãovouficarCaladinho. Naquele momento ele teve pena do antes arrogante Játenhoaté. Apesar de ser um crack de laboratório, ainda assim, mesmo assim, era humano.

– Tudo bem, Kurri, tá tranquilo, fico feliz em ter te ajudado a se conectar com a sua sexualidade liberta de pré-conceitos, definições e palavras-chave… esta é a hora boa da verdade de cada um, é para isso que estamos na Terra…

– Mas você não entendeu Hernandinho, eu estou apaixonado por você…

– Qualé, pontuado, até ontem você jogava pedra em mim, me chamava de bichona, viado, pederasta, engolidor de espada e outras coisas que agora esqueci…

– Nando, posso te chamar assim? Aquilo era uma maneira de afastar a vontade, como a vontade que tenho agora, de dar um beijo nesses lábios de mel… o meu ódio, na verdade, aquilo que tu chamas de homofobia é feito de medo…

A partir daí, a lenda se bifurca, trifurca, quadrifurca, é um furdunço só…

Há quem diga que Hernando recusou o amor pela primeira vez na vida e puniu o Kurri com o desprezo que este antes lhe votava.

Outros dizem que viraram amigos multi-coloridos e visitaram juntos todos os inúmeros terrenos baldios, carcaças de carros e outros sítios recônditos do cancrus.

A versão que mais me agrada é a seguinte. Largaram a sexologia pra lá e foram trepar dia e noite em Trancoso, em Lumiar ou no interior de Minas, tanto faz. Se é por amor, sou sempre a favor.