/CHALHOUB – Helena nos lança no bojo dos antagonismos de classe

CHALHOUB – Helena nos lança no bojo dos antagonismos de classe

“Nada disso, todavia, era ainda o melhor de Helena. Se nos capítulos iniciais do livro Machado descrevera a ideologia senhorial e explorara as tensões internas à classe dominante, com Helena ele nos lança no bojo dos antagonismos de classe
24: constitutivos dessa política específica de domínio. O processo é extremamente sutil, por isso tenho dificuldade de avaliar o tanto de planejamento e o quanto de intuição havia nos procedimentos narrativos de Machado. A chave do problema, talvez a chave do livro, consiste em perceber que há na personagem Helena, apesar das aparências ao contrário, uma visão de mundo que lhe é própria, e que não pode ser entendida se referida apenas à ideologia senhorial. Dito de outra forma, a protagonista decerto conhecia e compartilhava os significados sociais gerais que, regidos por Estácio e criaturas semelhantes, reproduziam aquele universo de relações sociais; o fato crucial, no entanto, é que Helena, por sua posição ambivalente, está condenada a uma introjeção crítica dos valores e significados que organizam o mundo do ponto de vista de Estácio.”
Sidney Chalhoub. Machado de Assis, historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. pp. 23-24.