“As expressões referentes ao tempo, muito numerosas no início da sequência, onde a palavra temps, repetida (Longtemps, temps, temps), sublinha a angústia do narrador diante do passar do tempo, a partir de métempsycose, diminuem de frequência, enquanto as de lugar aumentam. A palavra métempsycose, que contém no seu interior a palavra temps, encaixada, serve de transição para a transformação que seu próprio significado sugere. A partir dessa palavra o tempo cede lugar ao espaço que é enfatizado pelo número crescente de expressões referentes a esta dimensão. Mas temps ecoa no interior de existence, distances, étendue, significando que o tempo foi captado e encaixado no interior da obra. As expressões ambíguas, que podem significar tempo e espaço – se hâte, prochaine, refletem, mais uma vez, a ideia profunda que se encerra nessa sequência e ilustram a afirmação de Proust em Contra Sainte-Beuve:

o belo em Guermantes é que os séculos que já se foram tentam ainda existir; o tempo, neles, tomou a forma do espaço, mas pode-se reconhecê-lo bem […] o instante em que vivem as coisas é fixado pelo pensamento que as reflete. Nesse momento, elas são pensadas, recebem sua forma. E sua forma, imortalmente, faz durar um tempo no meio de outros.

HARVEY, Vera. Marcel Proust: realidade e criação. São Paulo: Perspectiva, 2007. pp. 123-124.