/ESTUDOS PROUSTIANOS – “Freud interessou-se primeiro pelo sonho, Proust pelo sono”

ESTUDOS PROUSTIANOS – “Freud interessou-se primeiro pelo sonho, Proust pelo sono”

“Freud interessou-se primeiro pelo sonho, Proust pelo sono. O tempo dos sonhos veio a seguir: eles desempenham um papel importante na intriga de seus romances. Sabemos tudo sobre o sono em Proust, de Proust. Pouco sabemos sobre o sono de Freud. Também foi insone? Comentou algo com Fliess? Tendo em vista que o ataque histérico é uma ação, um meio de reproduzir o prazer, pode-se explicar da
16:   seguinte maneira a ‘mania da cama’ (ou clinomania): um dos pacientes de Freud ‘geme ainda hoje no sono para que sua mãe, morta quando ele tinha 22 meses, o pegue no colo’. ‘Tudo é calculado em função do outro, mas na maioria das vezes do outro pré-histórico e inesquecível que nenhuma pessoa ulterior conseguirá igualar’, escreveu Freud em 6 de dezembro de 1892. O Narrador de Em busca do tempo perdido não sabe, mas fica deitado durante o dia porque espera pela mãe, que é sua avó no romance. E o próprio Marcel Proust, que saía tão raramente da cama quando a mãe ainda estava viva, correspondendo-se com ela por bilhetes por baixo da porta, passou a levantar-se ainda menos quando ela morreu, como se indefinidamente à espera de uma visita que nunca mais aconteceria.”
TADIÉ, Jean-Yves. O lago desconhecido: Entre Proust e Freud. Porto Alegre: L&PM, 2017. pp. 15-16.