/ESTUDOS PROUSTIANOS – Proust e seu sonho de mudança de sexo

ESTUDOS PROUSTIANOS – Proust e seu sonho de mudança de sexo

“Para a mãe, de fato, ele só descrevia sonhos de aparência anódina, como certa manhã de caridade à qual chegava de braço dado com Madeleine Lemaire (para ele, talvez fosse um pesadelo). Era ele, porém metamorfoseado em mulher, uma sócia da Comédie Française, Blanche Pierson, de 54 anos. O que ele se perguntava, então, era por que havia cometido o desatino de ir a uma festa se estava de luto pelo avô. Reencontraremos esse sonho de mudança de sexo e a angústia por ele causada (sem dúvida deslocada do luto que ele se acusava de infringir, tanto quanto da homossexualidade da qual se sentia culpado diante perante os pais) ao fim de Um amor de Swann. Proust se viu como uma mulher de certa idade, capaz, como Madeleine Lemaire, que à época ilustrou Os prazeres e os dias, de atrair jovens rapazes.”
TADIÉ, Jean-Yves. O lago desconhecido: Entre Proust e Freud. Porto Alegre: L&PM, 2017. p. 17