/HISTÓRIAS DO SAMBA – 59. Diamante

HISTÓRIAS DO SAMBA – 59. Diamante

  1. Diamante

 

Foi na Lemos Britto que conheci “Seu Gonzaga”. Preso com mais de “vinte anos de praia” como ele dizia com fina ironia, ele era um negro esguio, muito educado e diplomata, típico “bom malandro”. Já fora “dono de morro” e amargara a traição do seu pessoal, que parara de enviar dinheiro para ele na cadeia. Ele levava na esportiva e estava sempre sorrindo. Na cadeia ele era uma lenda: todos diziam que ele tinha um baú de composições que guardava a sete-chaves.

Seu Gonzaga tinha tanto medo de que lhe roubassem seu único tesouro que muitas vezes compunha os versos das músicas sob a forma do acróstico, com as iniciais formando o nome de um parente dele, uma espécie de impressão digital que marcava a composição como sua. Nos poucos meses em que frequentei a Lemos, acabamos ficando amigos. Seu Gonzaga estava prestes a “ganhar liberdade”.

 

Quando finalmente saiu, ele me procurou. A primeira coisa que me pediu foi que passasse a chamá-lo de Diamante, o nome artístico que simbolizava sua nova vida. Como prova de confiança, deu-me uma fita com algumas de suas composições. Ali havia sambas belíssimos, de estilo variado, desde clássicos samba-canção até sambas suingados que lembravam Jorge Ben. E ele passeava também por outros gêneros musicais.

Enfim, era mesmo um Diamante nada bruto que precisava apenas de uma chance. Infelizmente não consegui ajudá-lo a encaminhar suas músicas. Apesar das ofertas do mundo do crime, Diamante nunca mais traiu sua alma de compositor, por vezes dormiu na rua e preferiu trabalhar de camelô no centro da cidade, esperando a hora de ser reconhecido como artista. Essa hora nunca chegou, mas ele não morreu bandido, ele morreu Diamante.