/O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Movimento da espada

O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Movimento da espada

MOVIMENTO DA ESPADA

Estamos quites, irmão vingador.

Desceu a espada

e cortou o braço.

Cá está ele, molhado em rubro.

Dói o ombro, mas sobre o ombro

tua justiça resplandece.

 

Já podes sorrir, tua boca

moldar-se em beijo de amor.

Beijo-te, irmão, minha dívida

está paga.

Fizemos as contas, estamos alegres,

 

Tua lâmina corta, mas é doce,

a carne sente, mas limpa-se.

O sol eterno brilha de novo

e seca a ferida.

 

Mutilado, mas quanto movimento

em mim procura ordem.

O que perdi se multiplica

e uma pobreza feita de pérolas

salva o tempo, resgata a noite.

Irmão, saber que és irmão,

na carne como nos domingos.

 

Rolaremos juntos pelo mar…

Agasalhado em tua vingança,

puro e imparcial como um cadáver que o ar embalsamasse,

serei carga jogada às ondas,

mas as ondas, também elas, secam,

e o sol brilha sempre.

 

Sobre minha mesa, sobre minha cova, como brilha o sol!

Obrigado, irmão, pelo sol que me deste,

na aparência roubando-o.

Já não posso classificar os bens preciosos.

Tudo é precioso…

e tranquilo

como olhos guardados nas pálpebras.