/O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – NOTURNO OPRIMIDO

O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – NOTURNO OPRIMIDO

NOTURNO OPRIMIDO

A água cai na caixa com uma força,

com uma dor! A casa não dorme, estupefata.

Os móveis continuam prisioneiros

de sua matéria pobre, mas a água parte-se,

 

a água protesta. Ela molha toda a noite

com sua queixa feroz, seu alarido.

E sobre nossos corpos se avoluma

o lado negro de não sei que infusão.

 

Mas não é o medo da morte do afogado,

o horror da água batendo nos espelhos,

indo até os cofres, os livros, as gargantas.

É o sentimento de uma coisa selvagem,

 

sinistra, irreparável, lamentosa.

Oh vamos nos precipitar no rio espesso

que derrubou a última parede

entre os sapatos, a cruzes e os peixes cegos do tempo.