/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 52: ZORBA

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 52: ZORBA

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 52: ZORBA

— Pedrão, já percebeu o impacto do relatório da Flora? Ia alimentar uma CPI, uma briga de cachorro grande com as siderúrgicas e suas empresas “reflorestadoras”. Mas que eu saiba o Congresso não iniciou nenhuma investigação.

— Talvez pelo fato do relatório nunca ter sido entregue…

— Você acha que a Flora foi sequestrada por esses caras?

— Ou pior… Mas para podermos fazer alguma coisa, temos que saber tudo acerca do trabalho dela.

15 de agosto de 2018

No primeiro dia de viagem para o sertão, gosto de sair bem cedo, quatro da manhã. Acordo às três, não dispenso meu café. Levantar é fácil, o duro é ver o Pedro dormindo e não acordá-lo. Dá vontade de alisar seus cabelos, sentir seu cheiro e dar o primeiro de muitos beijos. Havia preparado tudo no dia anterior, depois de comer foi só embarcar no Zorba. É o nome que dei ao meu Ford Ka 2015 para homenagear um velho grego que sabia viver. Afinal, quando começo a falar sozinha nas intermináveis retas que levam ao sertão devo ao menos estar em boa companhia. E Zorba era um hedonista sempre à procura do novo, da emoção da descoberta, para não falar na paixão por morangos e mulheres, não nessa ordem. Além disso, sendo experiente, sabe ter paciência para ultrapassar as jamantas carregadas que encontramos no caminho. Toda vez que passa uma Scania, não posso deixar de lembrar do meu irmão e de sua estúpida morte. Eu era muito jovem para perdoar, por isso ainda hoje me sinto culpada. Mesmo que eu tenha sido a vítima de um ato terrível que até hoje me atormenta.

No primeiro dia fiz setecentos quilômetros e parei numa pousada em Três Marias, à beira do São Francisco. Deu tempo de ver o grande rio antes da noite chegar. Uma canoa de madeira na margem me deu a ideia de sair remando até chegar no De Janeiro para ver o encontro de Riobaldo e Diadorim-Menino. Infelizmente, a tarefa que tenho diante de mim é desprovida de poesia. Depois do trabalho de campo em Grão-Mogol, avaliando a devastação causada pelo eucalipto na região, vou finalizar o relatório que vai fundamentar a CPI.

Estou cansada. Vou dormir. Fecho os olhos e imagino o Pedro me esmagando na parede do prédio com um beijo dos nossos.