/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 55: O homem dos cabelos pintados

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 55: O homem dos cabelos pintados

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 55: O HOMEM DOS CABELOS PINTADOS

— Bola, temos pouco tempo, vamos pular para o fim da viagem.

— Concordo, Pedro.

15 de setembro de 2018

Um mês de trabalho de campo. Acordando antes do sol. Um mês longe dos braços do Pedro, do jeito menino que ele tem, dos beijos nos meus pés, chupando os dedinhos como se estivesse bebendo um suco de amor. Um mês sem ele me olhando como se eu fosse a mulher mais linda do mundo, o que não para de afirmar.

As conclusões preliminares estão bem fundamentadas. A fauna da região tem sofrido um processo violento de diminuição de espaços habitáveis. Isso não ocorre somente em Grão Mogol e Francisco Sá, o Cerrado como um todo perde mais de dois campos de futebol por minuto para o eucalipto, a soja, o arroz e a criação de gado. São três milhões de hectares por ano. Nos dois municípios, a onça pintada e a jaguatirica desapareceram e estão em vias de extinção o tatu-canastra, o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, a águia cinzenta e o gato-maracajá. O bioma do Cerrado entrará em colapso em menos de dez anos.

Enquanto isso, a perseguição continua. O homem que me segue dispensou a necessidade de fazê-lo de forma discreta. Se antes me vigiava, agora quer me assustar. O carro dele passou a vir atrás do meu a uma distância de no máximo cem metros. Com isso pude ver a marca e o modelo do carro, um Tucson da Hyundai. A placa também estava à mostra: LDH 0180. Era uma placa fria. No dia seguinte havia mudado para AGP 0152. Pensei em ir a uma delegacia, mas não tenho prova alguma, não posso perder tempo nem me arriscar tentando fotografá-lo. Não foi preciso. Hoje passei a manhã toda na área rural de Francisco Sá e fui até o centro almoçar em um restaurante com uma comidinha mineira honesta e saborosa. Estacionei e pouco depois o Tucson prateado encostou ao lado do Zorba. O sujeito desceu e se acomodou em uma mesa quase colada à minha. É branco, com um sorriso estúpido e sujo que não sai do rosto, quarenta e poucos anos e cabelos tingidos de preto. Tenho horror a homem de cabelo pintado. Não consegui comer. Ele pegou o celular e começou a me filmar enquanto roçava a língua nos lábios. Levantei na mesma hora. Vou embora amanhã.