/Rubem Alves – O barulho que ouvimos em todos os lugares

Rubem Alves – O barulho que ouvimos em todos os lugares

“E esse barulho que ouvimos em todos os lugares – o ruído das fábricas, o barulho das bolsas de valores – não será, porventura, o barulho dos coveiros que a enterram? O ar que respiramos é o ar da decomposição. A Terra está morta. Nós a matamos. Como poderemos nós, os assassinos da Terra, nos confortar a nós mesmos? A Terra, extensão dos nossos corpos, a mais sagrada, sangrou até a morte sobe nossos punhais… Quem nos limpará desse sangue?’. Relatou-se depois que, naquele mesmo dia, o louco entrou em várias bolsas de valores, bancos e indústrias e lá cantou o ‘Réquiem para a Terra Morta’. Retirado de lá e compelido a se explicar, a cada vez ele disse a mesma coisa: ‘Que são esses templos do progresso senão os sepulcros da Terra?'”

Rubem Alves, “Meu ‘Uaicai’” In: Lições do velho educador. Campinas: Papirus, 2013.