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Histórias do Alvito – NÃO EXISTE HOMEM MALANDRO PARA MULHER

Histórias do Alvito
NÃO EXISTE HOMEM MALANDRO PRA MULHER
Ele vivia o sonho de passar seis meses na Grécia lendo, visitando museus e sítios arqueológicos e passeando um bocadinho que ninguém é de ferro. Havia estudado um pouco do grego antigo mas o grego moderno é outra coisa, pois lá se vão mais de dois mil anos. Não haveria forma mais fácil nem tampouco mais agradável de aprender a língua do que arranjando uma namorada grega.
Falar é fôlego, ouvi certa vez. Mas parecia que ele estava com sorte. Quando foi tratar do seu passaporte, conheceu uma moça grega que tinha ido ali ajudar sua amiga tcheca. Caterina se chamava a bela helena, de pele alva e cabelos e olhos bem negros. Muito simpática. Ele era muito tímido, mas conseguiu trocar algumas palavras com ela e convidá-la para a apresentação de uma tragédia no Teatro de Dionisos, que data da Atenas clássica. Isso sim é que era um encontro…
No dia, entretanto, Caterina veio também com sua amiga. Ele entendeu. Em 1988, a Grécia era um país tão conservador que a mulher grega ainda chamava seu marido de Kyrios, da mesma forma que chamavam seu pai. Kyrios significa Senhor. Na noite, não se viam mulheres, nem mesmo em grupo, sem a presença de um homem, um primo ou irmão que fosse. Caterina estava apenas seguindo o costume e mesmo em um evento diurno, não veio sozinha. A conversa entre ela e ele foi boa, Caterina não podia ser mais amável, o que o animou. A conversa foi em inglês, é claro.
O encontro seguinte foi num café. Parecia um progresso. A amiga não veio, ufa! Em compensação Caterina trouxe a tiracolo o irmão de 15 anos. Alegou, sempre muito gentil, que ele falava um inglês ótimo e que o irmão teria vindo para aprender com ele. Nem preciso dizer que o café nunca pareceu tão amargo mas ele tentou disfarçar.
Ela também aceitou o convite para um almoço na semana seguinte, mas o indesejado também compareceu. Era até um menino educado, mas a sua presença era um marcador claro dos limites que Caterina impunha.. Àquela altura ela parecia mais inexpugnável do que as muralhas de Tróia e ele não era nenhum Ulisses capaz de inventar algum mecanismo feito o famoso cavalo de madeira.
Seu amigo espanhol, o incomparável Manuel Serrano Espinosa é que decifrou tudo. — Hombre… ela sabe que você só vai ficar seis meses por aqui… não quer uma aventura com data marcada para terminar. As gregas namoram para casar. Pode ser. Ou ela simplesmente não via nele nada de especial além do bom inglês.
Tentou então uma cartada final. Convidou Caterina e somente ela para uma viagem de trem até o norte da Grécia, com o intuito declarado de visitar museus e sítios arqueológicos e aquele propósito não declarado que vocês podem bem adivinhar. Caterina era graciosa e o encantava cada vez mais. Ele imaginava horas e horas no balanço do trem conhecendo novas terras com ela ao lado.
Milagrosamente, Caterina apareceu, linda, na estação no dia e horário que haviam combinado. Peraí, vocês já adivinharam? O agregado adolescente também veio. E agora seria diferente. Ela não iria viajar, somente o irmão, cujo nome ele esqueceu como forma de vingança, mas com quem viajou pois não havia outro jeito. Vai gostar de aprender inglês assim…
Essa história faz lembrar “Olho por olho”, tão bem cantada por Beth Carvalho:
“Você que se diz malandro
Malandro você não é
Porque não existe homem malandro pra mulher”
EM MAIO: LENDO Cem anos de solidão