“O rei ficou entusiasmadíssimo e lançou a campanha democrática ‘Chapéus para todos’. Os outdoors se encheram de slogans: ‘É preciso usar chapéu para ter um bom emprego’; ‘Prepare-se para o mercado de trabalho: Use um chapéu’; ‘Garanta um futuro para o seu filho: Dê-lhe um chapéu!’ Os pais, que queriam que seus filhos fossem inteligentes, faziam os maiores sacrifícios para lhes comprar chapéus. Havia festas para a cerimônia da ‘entrega dos chapéus’. Perante um auditório lotado, anunciava-se o nome do jovem, o público explodia em palmas, ele se dirigia à mesa dos enchapelados e lá lhe era colocado um chapéu na cabeça. Os pais diziam, então, aliviados: ‘Cumprimos a nossa missão. Nosso filho tem um chapéu. Seu futuro está garantido. Podemos morrer em paz’.
A indústria chapeleira progrediu. Até as cidades mais pobres anunciavam, com orgulho: ‘Também temos uma fábrica de chapéus…’.”
Rubem Alves, “O país dos chapéus” In: Lições do velho educador. Campinas: Papirus, 2013.