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Clube do Conto – “Onnagata” – Yukio Mishima

4a. feira tem Clube do Conto:

AUTOR: Yukio Mishima (1925-1970)

Ele já levava a tradição japonesa no pseudônimo: Yukio (neve) Mishima (cidade próxima ao sagrado Monte Fuji), mas sua trajetória não teve nada de linear e estável. Nasceu numa família aristocrática, descendente de samurais e teve uma infância resguardada pela avó, que cuidava para que ele não brincasse fora de casa, levando o menino a brincar de bonecas e a se refugiar em leituras e sonhos.

Na adolescência, descobre sua homossexualidade no carnaval carioca de 1952. Adulto, casa-se e tem dois filhos, mas continua tendo inúmeros romances e relacionamentos homossexuais. Pequeno e frágil, mergulha no fisioculturismo e no kendo (arte samurai da espada), cultuando o corpo como uma obra de arte.

Já no primeiro livro, “Máscaras” (1948), choca ao publicar o primeiro romance homossexual da literatura japonesa e tinha cunho autobiográfico. Também escreve contos, ensaios, peças para o teatro “ocidental” e para o tradicional teatro kobuki. Por três vezes concorre ao Prêmio Nobel, sem vencer. Ao mesmo tempo, trabalhava como ator em filmes de gangster, posava seminu para jornais populares, enfim, alimentava um insaciável narcisismo.

Um elemento importante de suas ideias era a crença de que a ocidentalização do Japão caminhara de mãos dadas com o desarmamento do país após a derrota na Segunda Guerra. Mas o Japão ao qual Mishima gostaria de retornar era o Japão muito anterior, dos samurais, da honra cujo ato mais belo era o sacrifício pela causa, o suicídio ritual, o seppuku.

E é assim que ele morre, em 25 de novembro de 1970, aos 45 anos. Cerca de um ano antes formara um pequeno exército de cem homens, treinados e comandados por ele: o Tokenokai (sociedade do escudo). Escoltado por quarenta de seus homens, invade o quartel central das Forças de Defesa do Japão e faz o comandante-geral das forças nipônicas de refém. O general é obrigado a convocar soldados e oficiais para o pátio onde eles ouvem um discurso de Mishima conclamando à revolta e à restauração de um governo comandado pelo imperador.

Diante da reação negativa e galhofeira às suas palavras, Mishima executa o seppuku, abrindo seu ventre com um punhal e tendo sua cabeça decepada por um dos seus homens.

O CONTO DE HOJE: “Onnagata”

O cenário é o teatro kabuki, uma forma dramática japonesa de cunho tradicional, que tem como alguns de seus temas centrais a lealdade, o amor, a honra, a vingança e o suicídio por amor. Envolve canto, dança e uma pesada maquilagem, sobretudo dos papéis femininos, que há séculos são representados por homens. Estes atores são chamados de “onnagata”.

A história é simples, o enredo se resume ao encantamento crescente de Masuyama pela arte e depois pela pessoa de Mangiku Sanokawa, que começara sua carreira como um adolescente pouco notado, para se tranformar em um “onnogata” incomparável:

“Sua presença em cena era brilhante, mas com sugestões de sombras, cada gesto seu a essência da delicadeza. Mangiku jamais expressava coisa alguma — força, autoridade, resistência ou coragem — a não ser por meio do único agente disponível a sua arte, a expressão feminina; mas através desse agente conseguia filtrar todo o tipo de emoção humana.”

É este conto, delicado, ambíguo, poético e envolvente que iremos debater hoje no Clube do Conto.

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