/ONDE ESTÁ DIADORIM?

ONDE ESTÁ DIADORIM?

ONDE ESTÁ DIADORIM?

UMA PROPOSTA PARA FACILITAR A LEITURA E O COMENTÁRIO DAS OBRAS DE JOÃO GUIMARÃES ROSA

No exemplar mais antigo de Grande sertão: veredas de que disponho, a 5a. edição, de 1967, Diadorim aparece pela primeira vez na página página 22: “Conforme pensei em Diadorim. Só pensava era nêle [na ortografia da época].” O mesmo trecho, na 21a. edição, datada de 2015, o mesmo trecho aparece na página 28. Na edição de bolso da Nova Fronteira, na página 21 e na edição de bolso da Cia. das Letras é na página 25 que o nome de Diadorim aparece pela primeira vez.

Willi Bolle chamou o livro de labiríntico e estava certo. Afinal, a fala do velho fazendeiro Riobaldo é toda “entrançada”, há o pântano narrativo e mesmo depois dele há muitas passagens fora do lugar em termos cronológicos. Há que lembrar também que GSV não tem nenhuma divisão em capítulos, não há nem mesmo um espaço maior entre parágrafos para marcar uma mudança de tema.

Quando se lê um artigo sobre, por exemplo, a primeira tentativa de atravessar o Liso do Sussuarão, o autor ou autora cita a página e a edição que utilizou. O que não adianta muito, a não ser que se tenha exatamente aquela edição.

Não é assim com Sófocles, Platão ou até mesmo Shakespeare, cujas obras são numeradas para que se possa rapidamente achar o trecho citado na edição que temos em mãos.

O que isso significa? Em Tóquio, um japonês com uma tradução para a sua língua, pode conversar com um alemão, com um dinamarquês, com uma francesa, todos com edições traduzidas de Romeu e Julieta para as respectivas línguas. Mas em todas, a linha 110 vai dizer, independentemente da página de cada edição, “Não jure pela lua, que é inconstante”, pede Julieta a Romeu.

Este humilde guieiro, por conta própria, numerou todo o livro em 1.098 passos para facilitar a travessia dos seus bandos de jagunços literários. Também dividi o livro em 150 partes temáticas, devidamente resumidas. Sendo assim, quando quero recapitular uma passagem, falo apenas: no passo 112 (onde Diadorim é chamado de “Belo feroz!). Claro que a minha numeração foi feita a meu gosto, sem um critério propriamente filológico.

Proponho que se forme uma comissão, cujos trabalhos poderiam ser encampados pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP, guardião-mór da obra do Rosinha. Pois ali há um conjunto de pesquisadores e amantes da obra de João Guimarães Rosa, sem falar no acervo riquíssimo.

Como pontapé inicial, sugiro três nomes.

Primeiramente, Brasinha, este sábio que fez do sertão seu universo e agora faz do universo o seu sertão. Ninguém conhece melhor a obra de Guimarães Rosa no papel e in loco. E Brasinha é sujeito “pacificioso”. Coragem e alegria nunca faltam.

A jornalista Regina Pereira, devota de Rosa, como ela se define, não só conhece os livros, mas vive a difundi-los em suas oficinas de leitura do IEB. É dona do texto mais rosiano que eu conheço. Em ela estando presente, não faltará poesia.

Por fim, o professor Ronaldo Alves, diretor do belíssimo Museu Casa Guimarães Rosa, outro apaixonado por vida e obra do Rosinha, outro grande conhecedor e trabalhador incansável das hostes rosianas.

Este humilde guieiro só gosta de guiar travessias. Não tenho capacidade nem interesse em participar da comissão, antes que mentes anti-rosianas, que descrêem no amor pelo Rosinha, me acusem de inventar algo em benefício próprio.

A sugestão foi dada.