Histórias do Alvito
ORÁCULO
O maior amigo que tive nesta vida e nas próximas (se existirem), chamava-se João Baptista. Era multi-talentoso. Falava um inglês sem jaça. Driblava, centrava e chutava forte com os dois pés. Criativo que só, imitava vozes, fazia personagens, provocava diálogos absurdos, segundo ele: – Só para criar uma polêmica. Uma inteligência absurda que disfarçava com bom humor.
Mas não era só isso. João era poeta, dos bons. Um dos seus poemas, que ele desprezava como “obra de juventude”, continha versos que nunca olvidei:
“O esmero,
com o qual,
lapidou-se
Um véu de primavera
Palpita nalguma
Sombria prateleira
Sebos do centro”
Foi dedicado a uma moça de pele alva e cabelos negros que ele tratava pelo nome imaginário de Natasha.
Pois às vezes fazemos tudo certo (assim achamos) e nada dá certo. De forma contundente, espetacular, inesquecível.
Aí você entra no avião, coloca os fones e aperta o botão para a sua melhor playlist de rock’n’roll. É nessa hora que os deuses enviam um oráculo tão perfeito que é cantado por uma banda com o nome de Os pássaros (The Byrds):
To everything (turn, turn, turn)
There is a season (turn, turn, turn)
And a time to every purpose, under heaven
A time to be born, a time to die
A time to plant, a time to reap
A time to kill, a time to heal
A time to laugh, a time to weep
To everything (turn, turn, turn)
There is a season (turn, turn, turn)
And a time to every purpose, under heaven
A time to build up, a time to break down
A time to dance, a time to mourn
A time to cast away stones, a time to gather stones together
To everything (turn, turn, turn)
There is a season (turn, turn, turn)
And a time to every purpose, under heaven
A time of love, a time of hate
A time of war, a time of peace
A time you may embrace, a time to refrain from embracing
To everything (turn, turn, turn)
There is a season (turn, turn, turn)
And a time to every purpose, under heaven
A time to gain, a time to lose
A time to rend, a time to sew
A time for love, a time for hate
A time for peace, I swear it’s not too late
Para tudo (mude! mude! mude!)
Há uma estação
E um tempo para cada propósito, debaixo do céu
Um tempo para nascer, um tempo para morrer
Um tempo para plantar, um tempo para colher
Um tempo para matar, um tempo para curar
Um tempo para rir, um tempo para chorar
Para tudo (mude! mude! mude!)
Há uma estação (mude! mude! mude!)
E um tempo para cada propósito debaixo do céu
Um tempo para construir, um tempo para demolir
Um tempo para dançar, um tempo para o luto
Um tempo para arremessar pedras, outro para juntá-las
Um tempo de amor, um tempo de ódio
Um tempo de guerra, um tempo de paz
Um tempo para ser abraçado, outro para ser evitado
Para tudo (mude! mude! mude!)
Há uma estação
E um tempo para cada propósito, debaixo do céu
Um tempo de ganhar, um tempo de perder
Um tempo para o amor , um tempo para o ódio
Um tempo para a paz, eu juro que não é muito tarde
Se a vida não para nunca, como diz Riobaldo, sigamos em frente, para uma nova estação de paz. E, quem sabe, amor. Mais cedo ou mais tarde, com ou sem véu, a primavera vem.