A SÉTIMA FALTA
Pelas minhas contas, eu faltei sete vezes em trinta e dois anos. A primeira vez foi por um motivo feliz: iria casar no sábado e tinha aula na sexta-feira à noite. Ainda pensei em ir, mas os próprios alunos insistiram no contrário. O motivo da segunda falta foi triste, o falecimento da minha avó Isaura. Depois emendei três faltas seguidas por conta de uma dengue que quase cancela todas as outras aulas que eu daria na vida. Tão contando? Cinco até agora. Aí veio mais uma falta por doença: uma infecção na garganta que não me permitia falar nem boa noite.
E a sétima? Bem, a sétima foi diferente de todas as outras. Eu estava dando o curso de História do Brasil para Relações Internacionais. Eles eram bem acima da média. Estava literalmente apaixonado por aquela turma. Por eles e por uma cabrocha que também era professora e acabara de passar em um concurso no Rio. Acontece que ela ainda precisava voltar à sua cidade, a mais de 300 quilômetros de distância. Fiquei até a hora dela partir em viagem. Pedi para entrar no carro. A ideia era saltar em algum lugar e ir para casa. Mas quem disse que eu consegui saltar? Fomos conversando os 300 quilômetros e eu cheguei só com a roupa do corpo. Eu teria aula dali a dois dias, mas quem disse que eu consegui desgrudar dela?
Resultado: tive que mandar uma mensagem à turma. Nela, eu dizia que iria faltar à próxima aula, mas que não iria mentir para eles, era por um bom motivo. Por mais que eu gostasse da minha profissão – e eu tinha certeza de que eles gostariam muito da profissão deles – havia uma ou duas coisas nesta vida mais importantes do que o trabalho. Achei que também era uma lição importante. As outras foram inevitáveis, mas a única que me dá orgulho até hoje é a sétima falta.