O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA Desaparecimento de Luisa Porto Pede-se a quem souber do paradeiro de Luísa Porto avise sua residência À Rua Santos Óleos, 48. Previna urgente solitária mãe enferma entrevada há longos…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – O…
O POETA ESCOLHE SEU TÚMULO Onde foi Troia, onde foi Helena, onde a erva cresce, onde te despi, Onde pastam coelhos a roer o tempo, e um rio molha roupas largadas, onde houve,…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – FRAGILIDADE
FRAGILIDADE Este verso, apenas um arabesco em torno do elemento essencial - inatingível. Fogem nuvens de verão, passam aves, navios, ondas, e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento, ai! já…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – ONTEM
ONTEM Até hoje perplexo ante o que murchou e não eram pétalas. De como este banco não reteve forma, cor ou lembrança. Nem esta árvore balança o galho que balançava. Tudo foi…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – ÁPORO
ÁPORO Um inseto cava cava sem alarme perfurando a terra sem achar escape. Que fazer, exausto em país bloqueado, enlace de noite raiz e minério? Eis que o labirinto (oh razão, mistério) presto…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – ROLA…
ROLA MUNDO Vi moças gritando numa tempestade. O que elas diziam o vento largava, logo devolvia. Pávido escutava, não compreendia. Talvez avisassem: mocidade é morta. Mas a chuva, mas o choro, mas a cascata caindo,…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – NOS…
NOS ÁUREOS TEMPOS Nos áureos tempos a rua era tanta. O lado direito retinha os jardins. Neles penetrávamos indo aparecer já no esquerdo lado que em ferros jazia. Nisto se passava um tempo dez mil.…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – UMA…
UMA HORA E MAIS OUTRA Há uma hora triste que tu não conheces. Não é a da tarde quando se diria baixar meio grama na dura balança; não é a da noite em que já…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – PASSAGEM…
PASSAGEM DA NOITE É noite. Sinto que é noite não porque a sombra descesse (bem me importa a face negra) mas porque dentro de mim, no fundo de mim, o grito se calou, fez-se desânimo.…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – PASSAGEM…
PASSAGEM DO ANO O último dia do ano não é o último dia do tempo. Outros dias virão e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida. Beijarás bocas, rasgarás papéis, farás viagens…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – NOSSO…
NOSSO TEMPO A Oswaldo Alves I Este é tempo de partido, tempo de homens partidos Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua. Os homens…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – O…
O MEDO A Antonio Candido "Porque há para todos nós um problema sério... Esse problema é o do medo." ANTONIO CANDIDO, Plataforma de uma geração. Em verdade temos medo. Nascemos escuro. As existências são poucas:…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Anoitecer
ANOITECER A Dolores É a hora em que o sino toca, mas aqui não há sinos; há somente buzinas; sirenes roucas, apitos aflitos, pungentes, trágicos, uivando escuro segredo; desta hora não tenho medo. É a…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – CARREGO…
CARREGO COMIGO Carrego comigohá dezenas de anos há centenas de anos o pequeno embrulho. Serão duas cartas? será uma flor? será um retrato? um lenço talvez? Já não me recordo onde o encontrei. Se foi…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – A…
A FLOR E A NÁUSEA Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – PROCURA…
Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – CONSIDERAÇÃO…
CONSIDERAÇÃO DO POEMA Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – VIAGEM…
VIAGEM NA FAMÍLIA No deserto de Itabira a sombra de meu pai tomou-me pela mão. Tanto tempo perdido. Porém nada dizia. Não era dia nem noite. Suspiro? Voo de pássaro? Porém nada dizia. Longamente…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – A…
A MÃO SUJA Minha mão está suja. Preciso cortá-la. Não adianta lavar. A água está podre. Nem ensaboar. O sabão é ruim. A mão está suja, suja há muitos anos. A princípio oculta no…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – NOTURNO…
NOTURNO OPRIMIDO A água cai na caixa com uma força, com uma dor! A casa não dorme, estupefata. Os móveis continuam prisioneiros de sua matéria pobre, mas a água parte-se, a água protesta. Ela…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – José
JOSÉ E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta?…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – O…
O maior trem do mundo O maior trem do mundo Leva minha terra Para a Alemanha Leva minha terra Para o Canadá Leva minha terra Para o Japão O maior trem do mundo Puxado por…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – A…
A MONTANHA PULVERIZADA Chego à sacada e vejo a minha serra, a serra de meu pai e meu avô, de todos os Andrades que passaram e passarão, a serra que não passa. Era coisa de…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Os…
OS ROSTOS IMÓVEIS A Otto Maria Carpeaux Pai morto, namorada morta. Tia morta, irmão nascido morto. Primos mortos, amigo morto. Avô morto, mãe morta (mãos brancas, retrato sempre inclinado na parede, grão de poeira nos…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Rua…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA RUA DO OLHAR Entre tantas ruas Que passam no mundo A Rua do Olhar, Em Paris, me toca. Imagino um olho Calmo, solitário, A fitar os homens que voltam…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA – Tristeza…
O DRUMMOND NOSSO DE CADA DIA TRISTEZA NO CÉU No céu também há uma hora melancólica. Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas. Por que fiz o mundo? Deus se pergunta e se…