EXU DE FARDA AZUL
Se o Brasil não é para principiantes, imaginem o Rio de Janeiro. A história que vou contar hoje é dessas, tão inacreditável que só podia acontecer no Rio. Mais especificamente neste marco tão simbólico da cidade que tem nome de caçador de baleias: o Arpoador.
Havia marcado uma água de côco com um amigo, o jornalista Julio Ludemir, um caçador de boas histórias de primeira categoria. Ele me explicou que gostaria de fazer um livro sobre a Polícia Militar, mas que estava com dificuldades para conseguir entrevistados. Olhando em torno, vi um PM, creio que um sargento, com a barriguinha que parece acompanhar o posto.
Um pouco de brincadeira, pedi a Julio que levantasse porque iríamos lá falar com ele. Vendo meu amigo inexplicavelmente tímido, eu mesmo iniciei a conversa com o PM, fazendo as apresentações e explicando o propósito do trabalho que Julio pretendia iniciar. O sargento foi educado e solícito. Veio conversar junto a nossa mesa, embora tenha permanecido de pé. Ele estava de serviço.
De repente, de forma discreta como cabia ao local, toda a aparência do sargento mudou, inclusive a sua voz. Tinha baixado nele um Exu, que passou a nos explicar ser ele o protetor do PM por conta dos perigos por que passava seu cavalo. Desta vez não foi só o Júlio que ficou calado. Minha boca parecia selada com uma pedra.
Afinal, eu nunca havia visto um Exu de farda azul.