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Histórias do Alvito – A ÚLTIMA VIAGEM DA LANCHINHA POP POP

Histórias do Alvito
A ÚLTIMA VIAGEM DA LANCHINHA POP POP
A lanchinha pop pop era o brinquedo mais simples do mundo. Feita de metal, do tamanho de uma mãozinha de criança, era movida pelo vapor de uma pastilha de cera, fazendo um barulhinho na água que dava a ela o epíteto tão simpático.
Quando menino, papai brincava com seu irmão, dois anos mais velho, entre os pequenos lagos de pedra da praia do Rio Vermelho em Salvador. Eles moravam ali perto, na Ladeira do Papagaio, que hoje não tem mais esse nome mas que eu consegui descobrir e visitar em uma tarde de muito sol.
Essa lembrança é muito preciosa, porque papai pouco falava da sua infância, talvez pelo trauma da morte do meu avô quando meu pai tinha apenas dez anos. Papai e meu tio foram enviados para um colégio interno em Petrópolis, onde tiveram que encarar frio e chuva e trocar a lanchinha por jogos de basquete em uma quadra de terra batida.
Curiosamente, muitos anos depois eu também brinquei com uma lanchinha pop pop vermelha e branca, mas os tempos eram outros e a embarcação tinha que se contentar com a banheira lá de casa. Mas toda viagem é infinita para uma criança.
O mar continuou sendo o maior brinquedo de papai ainda na adolescência, quando veio para o Rio fazer o Ensino Médio e trabalhar como representante comercial da margarina Claybon. Batia perna por todo o Rio de Janeiro, indo de padaria em padaria, para à noite estudar.
Aos fins de semana, se reunia com uma turma para nadar na Praia do Flamengo, que era bem limpa na década de 1940. Até a Lagoa Rodrigo de Freitas tinha água cristalina. Outra diversão era frequentar a sede social do Flamengo, onde papai jogava de pivô no time juvenil.
Já homem casado e com filhos, papai via na praia uma chance de purificação pois atribuía um valor quase místico ao mergulho nas ondas, não se cansando de dizer que voltava da praia de corpo e alma lavados. Adorava ir à Barra da Tijuca, que na década de 70 era pouco frequentada.
As águas do tempo não param de rolar. Depois de três infartos, papai não podia mais ir à praia, tampouco “furar onda”, como ele gostava de dizer. Minha irmã Nanda e eu decidimos lhe proporcionar uma despedida..
Um de cada lado, seguramos papai pelos braços e ele, com aquele sorriso inesquecível, mergulhou com valentia seu corpo pesado no mar e foi levantado por nós, a água salgada escorrendo da vasta cabeleira grisalha e uma felicidade de menino levado.
Suas cinzas foram lançadas por toda a família na Praia Vermelha, onde ele tinha fingido ensinar mamãe a nadar. Estava realizada a travessia do Rio Vermelho à Praia Vermelha.
Mas a lanchinha pop pop, que também era vermelha, não para de navegar na minha memória.
Pode ser uma imagem de barco e texto que diz "CDA"