A VOLTA DA GARRAFA LANÇADA AO MAR

Era demais. O sujeito estar em uma praia paradisíaca comendo um petisco, bebendo um suquinho, quando de repente a areia é tomada por uma escola de samba com bateria e tudo. Pegou seu pandeiro de boa madeira e se juntou ao préstito carnavalesco-praiano. Logo se enturmou e conheceu um carioca que há anos vivia na ilha e lhe explicou que era parte de um programa da prefeitura de Floripa para divulgar seu carnaval. Convidado pelo conterrâneo, naquele dia subiu o morro para ver um ensaio da Protegidos da Princesa. Isso foi no famoso ano 2000.

Um par de anos depois, escreve um brevíssimo artigo intitulado “Eram os gregos macumbeiros?”, no qual faz o mea culpa de que fora somente por preconceito que não reconhecera semelhanças estruturais entre a religião dos gregos antigos e do candomblé. O artigo nunca foi publicado em revista alguma, mas foi lançado ao mar infinito do hiperespaço feito um bilhete numa garrafa.

Vinte anos depois, já uma outra pessoa, um outro primo com o mesmo nome de Marcos Alvito, ele volta a Floripa e ao Pântano do Sul, para lamber novas feridas. Passa os dias a caminhar pela praia, a fotografar gaivotas e a conversar com pescadores. É aí que entra em cena, novamente, o bilhete engarrafado, o artigo sobre deuses e orixás.

Vem na pessoa de um estudante de História, o gentilíssimo e bem falante Arthur, que aparece para tomar um café comigo juntamente com o sorridente Ademar, seu amigo desde os sete anos de idade. Ambos, desde muito cedo, vivem no mundo das escolas de samba. Os dois fazem parte da bateria da Unidos da Coloninha, outra escola de samba tradicional de Florianópolis. Essa dupla para lá de dinâmica e entusiasmada, graças à ideia de Arthur, apresentou uma proposta de sinopse ao carnavalesco da escola, que eles disseram ser inspirada no artigo escrito pelo meu primo Marcos Alvito de vinte anos atrás.

Fico muito feliz e honrado e não só dou a “licença” que eles educadamente vieram buscar, mas peço que tomem todas as liberdades possíveis e sobretudo as impossíveis. Eu nem precisava ter dito isso. Quando Arthur começa a me contar a mirabolante trama que inventou a partir de artigo tão chinfrim, fico absolutamente encantado.

Além disso, conversamos sobre absolutamente tudo, um papo regado a muitas histórias e gargalhadas. Acho que fiz dois amigos. Arthur e Ademar têm outros projetos e estou disposto a participar de visitas a comunidades e escolas, se isso ajudar de alguma forma.

Mas a visita que não vou deixar de fazer será uma ida à Unidos da Coloninha. Primeiro para assistir ao ensaio. E depois, no dia do desfile, curtir a alegria de ter minimamente contribuído para a alegria da festa.

Nada mau para uma garrafinha lançada ao mar…

P.S: O gorducho sou eu. Arthur está à esquerda e Ademar à direita.