Não podia haver dois mais diferentes. Alex e eu éramos ótimos amigos à época em que estudávamos História em Niterói. E ainda somos, quarenta ano depois. Alex era (e ainda é) um sujeito bonito, simpático além da conta e com uma gentileza natural para tratar as pessoas. Eu era (e ainda sou) narigudo, tímido e desajeitado no trato com outros seres humanos. Alex nunca estava apaixonado mas estava sempre namorando. Eu estava sempre apaixonado e nunca estava namorando.
Um dia isso mudou. Voltando da faculdade, no caminho para a barca, vi meu amigo adotar um tom de voz acima do habitual, que não demorei a reconhecer como a fala do coração. Me contou animadamente de uma tal Valéria, que estava prestes a fazer vestibular e que se os deuses fossem bons viria a estudar conosco, ou melhor, com ele, que eu não tinha nada a ver com isso.
E assim foi. Alex não conseguiu esperar e mesmo antes dela prestar o vestibular já estavam juntos. A moça morena de cabelos encaracolados ingressou no curso de História já como namorada do meu amigo. Talvez por estar em uma fase de descoberta, depois de um tempo ela rompeu, nem preciso dizer o quanto ele sofreu.
Terminada a faculdade, cada um foi para um lado. Parecia o fim de tudo. Não se viram por longos vinte e cinco anos. Até que se reencontraram na festa de uma amiga comum. Marcaram uma conversa sobre os velhos tempos. Estão casados e felizes há treze anos.
Devo ter passado o vírus da paixão para o Alex, pois estive com ele esta semana e os olhos dele brilham quando fala o nome de sete mágicas letras: V-A-L-É-R-I-A .