/Histórias do Alvito CHAOS – O MENINO NA AULA DE ALEMÃO

Histórias do Alvito CHAOS – O MENINO NA AULA DE ALEMÃO

Histórias do Alvito
CHAOS – O MENINO NA AULA DE ALEMÃO
Ele protestou, rugiu, bateu os pezinhos. Mas avisei que não iria adiantar nada, nós dois iríamos fazer aula de alemão.
— Sábado de manhã? Não dá pra ficar em casa vendo a Premier League?
— Nein, você vem comigo, Menino.
Frau B., nossa professora, não poderia ser mais simpática, nem conhecer melhor a língua de Goethe (e Beckenbauer, ele acrescenta). A turma, afora o véi, era composta por rapazes e moças na casa dos vinte anos, alguns ainda com carinha de criança. Se a gente somasse a idade de três deles mal daria os meus 6.3.
Um quer aprender para conquistar o respeito dos anciãos do seu trabalho, outro é desenvolvedor Web e quer trabalhar na Alemanha. Ela quer complementar o alemão que aprendeu na faculdade. Outra é médica e quer fazer um estágio na Alemanha. E por aí vai.
Já o mais velho da turma, quer tão simplesmente aprender, pois aprender sempre foi o sentido da sua vida. E nada melhor do que tentar aprender algo bem difícil, é um bom exercício para o outono da vida. Além disso, quem mora em Blumenau tem que saber algum alemão, isso faz parte da história e da tradição da cidade. Aqui um auf wiedersehen (até mais ver) faz toda a diferença.
Por exemplo, aqui em Blumenau há até uma expressão idiomática local: Alles blau in Blumenau (tudo azul em Blumenau). Mas a professora alertou que isso não funciona na Alemanha, onde o inverno é rigoroso e cinzento e a cor azul (blau) é associada a uma época triste, em que o sol só dá expediente ma non troppo entre as 10 da manhã e as 4 da tarde. Aliás, o blau não parece ser muito querido. Ich bin blau significa estou bêbado e Ich mache blau equivale a dar o famoso caô, por exemplo ligando para o trabalho e avisando que se está doente. Tá pensando que alemão é tudo santo?
Perguntei ao Menino de quais palavras ele mais tinha gostado. Não teve dúvidas: der Hund (cachorro), Tschüss (um tchau bem informal) e wochenende, que significa fim de semana quando a gente deveria estar passeando… acrescentou ele.
A aula foi dinâmica, cheia de práticas diferentes. O Menino adorou a parte em que havia uma espécie de quebra cabeças com nome de países, capitais e a língua falada em cada país. Completado o exercício ele perguntou quando chegaria a hora do Lego…
Ele quase caiu na gargalhada quando a professora disse que vaca em alemão é Kuh. Só me faz passar vergonha. O danado emendou de bate pronto:
— Quer dizer que se a gente xingar o alemão vai entender “vai tomar na vaca”?
A professora levou na esportiva, o fato de ser carioca sempre atenua, já se espera que a gente fale alguma besteira. Aliás, Frau B. estava em dia de furor pedagógico. Era para a aula terminar às 11:35. Ao meio-dia ela continuava a todo o vapor e só permitiu o apito final às 12:35.
A essa altura o Menino não aguentava mais ficar trancado numa sala, sobretudo em dia de céu azulíssimo. Eu estaria bem, não fosse a necessidade premente de cuidar da manutenção do meu sistema hidráulico. E a fome devorava minhas entranhas.
Mas o fato de que eu e ele conseguimos ir até o final sem que o cérebro entrasse em colapso é maravilhoso, ou como se diz nessa língua de meter medo:
Wunderbar!
EM MAIO: Lendo Cem anos de solidão (inscrições abertas)