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Histórias do Alvito – CONFISSÕES DE UM CHARLATÃO

Histórias do Alvito 
CONFISSÕES DE UM CHARLATÃO
Segundo o respeitável dicionário Houaiss, charlatão é o “mercador ambulante que vende drogas e elixires reputados milagrosos, atraindo e iludindo o público”. O eminente léxico ainda acrescenta outros sentidos como de “mistificador, trapaceiro e impostor”.
Pois bem, há sete anos que exerço esta nobre porém difamada ocupação. Deixei de lado diplomas de historiador e antropólogo, despi-me das taras, manias e caretices da academia e parti para meu batismo rosiano nas águas do Urucuia. Nunca fui tão feliz.
Desde então, sou um charlatão assumido por oferecer cursos de leitura literária sem ter nem mesmo graduação, muito menos pós-graduação em Letras. Ao menos digo isso em alto e bom som para meus alunos e alunas logo no início do curso.
Me encaixo perfeitamente na noção de “mercador ambulante” já que desfruto da liberdade de não pertencer a nenhuma instituição (vade retro, Satanás), a não ser à fictícia (viva a mistificação criativa) Universidade LIVRE do Alvito, que embora não exista foi criada há mais de oito anos e tem até site na Internet, logo e tudo o mais que é necessário para o bom embuste. Dou até diploma, acreditem se quiserem.
Quanto a “vender drogas e elixires reputados milagrosos”, sou obrigado a confessar mais uma vez. Afinal, o que faço eu senão divulgar as virtudes existenciais de Grande sertão: veredas, o xarope para a inteligência de Machado de Assis, o refinamento intelectual de Proust ou o encantamento de García Márquez? Sou apenas um leitor, portanto esses cursos são pura trapaça. É impossível que aprendam alguma coisa comigo.
Pior, não entrego tudo mastigado, classificado, ordenado, ponho alunos e alunas para pensar, comentar e até delirar através do contato direto com o texto. Claro que com o propósito de iludir. O Houaiss também menciona a “exploração da credulidade alheia”.
Não sei como os alunos e alunas não percebem minha condição de impostor quando lhes digo que deixei de ser professor e agora sou um guieiro que também aprende com eles, que todos aprendem com todos e cito a frase do Rosinha:
“Mestre, não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”
EM MAIO: LENDO Cem anos de solidão
Pode ser uma imagem de texto que diz "ensina mais quem repente aprende."