Histórias do Alvito
EM BUSCA DA BOLA PERDIDA
— Alvito, você é rápido?
— Não…
— Alvito, você é bom jogador?
— Não…
— Então você é maluco!
Foi isso que me disse Waldir, um professor do Departamento de Educação Física, quando soube que, aos 44 anos e com um físico de Tarzan de alfaiate (Noel Rosa) eu estava jogando rugby.
Um ano, três dedos quebrados e algumas costelas dolorosamente machucadas, qualquer um daria razão a ele. Mas ele não sabia que eu era (e sou) um menino de 12 anos que nunca matou sua fome de bola.
Minha infância foi ótima, minha irmã mais nova era a melhor amiga do mundo, morava em um prédio com uma boa turma de garotos para brincar. O problema é que não havia onde jogar futebol, ou melhor, havia, mas era proibido: a garagem sob pilotis. Minha escola era boa, mas não tinha espaço nem para jogar bola de gude.
E eu era apaixonado por esportes, sobretudo futebol e basquete, tendo herdado o gosto pelo último do meu pai, que fora pivô no juvenil do Flamengo.
Pratiquei algum esporte esporadicamente, no Exército e na universidade, onde, nas Olimpíadas, curiosamente fui titular dos times de futebol de salão e de basquete da História quando já era professor da casa. O que somente atesta a não abundância de talentos do curso, porque eu nunca passei de um jogador mediano, se tanto.
Essa carência insanável de bola acentuou meu amor por esportes. Estudo, escrevo, dou minhas aulas. Mas acompanho diversos campeonatos. No momento em que escrevo estou de olho em dois mundiais, de críquete e de rugby, acompanho os playoffs do baseball norte-americano, torço pelo meu Flamengo no Brasileirão, fico de olho na Champions League e aguardo com expectativa o reinício da temporada da NBA. É como se eu estivesse sempre em busca da bola perdida.
Detalhe: participar da criação do time de rugby da UFF, liderado e treinado pelo grande Juan Manuel Pardal, que soube criar uma equipe solidária e cheia de companheirismo, foi uma das experiências mais bonitas do meu tempo de universidade. Se eu pudesse voltar no tempo, trocaria sem hesitar alguns dedos quebrados e uma insuportável dor nas costelas para entrar em campo mais uma vez com os Quero-Queros (nosso mascote).
Porque, depois de um ano de bola nas mãos, mesmo ovalada, o menino de doze anos nunca foi tão feliz.