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HISTÓRIAS DO ALVITO – Juro que eu não sou o Júlio

Juro que eu não sou o Júlio

 

É tudo vaidade, como está na Bíblia. Ou, na versão de Lobão, é tudo pose. Os jornalistas sabem disso. Qualquer manual de jornalismo ensina que para dar mais peso a uma matéria é preciso convocar um “especialista”. E os especialistas gostam de sair na televisão, no jornal, na revista e até no rádio. Junta-se a fome de notícia com a vontade de aparecer.

 

Meu primo tinha escrito sua tese sobre As cores de Acari e a havia guardado na gaveta. Não sabia se era boa ou má. Não tinha coragem ou ânimo para publicá-la. Do nada, amigo de uma amiga, lhe telefona um repórter pedindo uma entrevista sobre a tese. Meu primo, normalmente gentil, é brusco e até grosseiro. Para afastar a perturbação, diz que só daria entrevista depois do repórter ler a tese. Devia ser suficiente para se livrar, pois em dezenas de entrevistas anteriores, sobre outras publicações, jamais vira um repórter ler uma linha sequer do livro acerca do qual gostaria de entrevistar o autor.

 

Mas não era qualquer repórter. O nome do cara era meio estranho: Julio Ludemir. E o comportamento dele foi mais inesperado ainda: buscou a tese em casa, leu no fim de semana e telefonou segunda feira para marcar a entrevista. Pego no contrapé, meu primo conversou com ele mais de seis horas. Não foi uma entrevista, foi uma confissão. O tal do Ludemir preparou uma matéria e tanto para o melhor site de jornalismo que a Internet brasileira já teve, o no.com (Notícia e Opinião). Foi a partir daí que meu primo se animou a publicar o livro. Não devia ser tão ruim assim, afinal.

 

Mas o que eu queria contar não é isso. Queria contar que ficaram amigos e costumavam dar voltas em torno da Lagoa, conversando sobre tudo e apreciando o dia (era quase sempre pela manhã). Acontece que Ludemir continuava fazendo suas reportagens, sempre corajosas, muitas vezes perigosas e até temerárias, desnudando máfias de toda a espécie: mendicância, tráfico de órgãos, envolvimento de associação de moradores e por aí vai. Ludemir era um homem bomba, cada dia mais visado. Preocupado, meu primo bolou um plano para não ser morto por acaso e avisou o amigo:

 

– Vou mandar fazer uma camisa dizendo: “Eu não sou o Júlio, ele é esse cara que está a meu lado …”