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Histórias do Alvito – QUANDO A VIDA PEGA NA VEIA

Histórias do Alvito
QUANDO A VIDA PEGA NA VEIA
Nesta arte que os prascóvios chamam de esporte, o tal do futebol, existem diversos tipos de chutes. Didi criou o seu, a imortal folha seca, uma bola que subia enganosamente para depois cair certeira dentro do gol para desespero daquele que os portugueses chamam de guarda-redes. Zico também batia faltas de forma sutil e eficiente como só vi uma outra pessoa fazer, um japonês chamado Nakamura e que havia sido treinado pelo próprio Zico. Rivelino tinha a famosa patada atômica, uma espécie de raiva concentrada destinada a matar o goleiro. O chute de Nelinho tinha mais curvas do que a estrada de Santos. Messi chuta sempre do mesmo jeito, bem no cantinho, com um efeito hipnótico que faz com que o goleiro fique melancólico a olhar a bola entrando.
Mas hoje eu quero falar do famoso chute que “pega na veia”. Para mim, o menos importante é o fato desse chute ser muito forte e redundar em gol. Isso, muitos chutes conseguem. Mas, para se dizer que um chute “pegou na veia” é preciso algo mais, algo indefinível, como se aquele chute estivesse tomado de uma certa mágica conjunção entre o pé e a bola. Algo raro, daí o “na veia”, um lugar muito específico. A veia leva o sangue de volta para o coração, mas, em termos informais, chamamos de veias todos os vasos. É onde corre o nosso sangue, que alimenta nosso corpo e nos permite a vida.
Pois na vida também podemos ver quando algo “pega na veia”. Quando você conversa com uma pessoa e pensa: quero ser amigo desse cara. Você procura um apartamento até que entra em um, se arrepia e pensa: quero que esta seja a minha casa. Agora, onde o pegar na veia é absolutamente indispensável é no amor.
Se não for assim, todos os outros chutes vão para fora, no máximo batem na trave. Ao contrário do futebol, todavia, no amor nem é preciso “bater na bola”, quando ela vem rolando na sua direção você já sabe: essa vai pegar na veia, com certeza vai no gol.
Pois o sublime é que nem o chute que pega na veia, ele se manifesta de forma indubitável, mas não é o olho que o percebe, é a alma.
P.S: Marcar um tento com um chute que pega na veia não garante vencer a partida. No relacionamento há que saber passar a bola, jogar de cabeça erguida olhando todo o campo e tratar a pelota sempre com carinho.
EM MAIO: LENDO Cem anos de solidão