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HISTÓRIAS DO ALVITO – Rebeldia Futebol Clube

Rebeldia Futebol Clube 

 

Essa cambada de primos que tenho, modéstia à parte, sempre foi rebelde.

 

Reza a lenda que meu priminho mais novo não queria abandonar aquele lugar quentinho onde ele flutuava tranquilo e nem precisava sair de casa para ser alimentado. O parto dele demorou horas e emperrou por causa do tamanho da cabeça. O jeito foi meter o fórceps na cabeça do moleque. Claro que depois ele não iria bater bem da cachola como vocês sabem.

 

O bebezinho também não era fácil, não gostava de dormir no berço, vê se pode. Só parava de chorar se era balançado no colo. Mas não dormia. Só pegava no sono mesmo depois de papai levá-lo para um passeio no jipe. Decerto queria tomar um ar.

 

Pequeno, ainda engatinhando, cansou daquele negócio de papinha dada na boquinha, bilu, bilu. Pra mostrar quem mandava ali, numa hora de descuido parental, subiu na mesa, empunhou garfo e faca em atitude de desafio. Não procede o boato de que teria dito “Eu quero mocotó!”

 

Lá pelos sete anos, se recusou a fazer a primeira comunhão. Quando a mãe disse que o padre era legal e que tinha um futebol depois, o sujeitinho abusado respondeu que se essa tal de primeira comunhão fosse bacana não precisava ter jogo de futebol depois. Quando o padre veio à sua casa para que ele não morresse pagão e ardesse no Inferno, disse para a mãe: por que eu tenho esse privilégio? Não confio nesse padre. Como sabem, foi batizado mas é  pagão por escolha e acredita nos deuses gregos…

 

Ainda pequeno, fez um abaixo-assinado e uma passeata no prédio, em plena ditadura militar, para pedir a liberação do futebol… Pichou as paredes do edifício, juntamente com um amigo, que depois lhe dedurou, contra o porteiro que lhes tomava a bola. Tiveram que esfregar tudo.

 

Adolescência? É até covardia. Batia boca com Geisel na televisão, fazia discursos contra a Coca-Cola, a água negra do imperialismo, lia todos os jornais de esquerda alternativos (com o perdão da redundância) e participava de tudo quanto é passeata, cineclube, debate, onde tivesse algo contra a ditadura lá estava meu primo.

 

Hoje não, meus primos são tranquilos, conformados, passivos até. Infelizmente, de vez em quando mentem um pouco …