/Histórias do Alvito – SETE ANOS DE LIBERDADE ROSIANA

Histórias do Alvito – SETE ANOS DE LIBERDADE ROSIANA

Histórias do Alvito
SETE ANOS DE LIBERDADE ROSIANA
“Agora minha alegria era mais minha.” (Grande sertão: veredas)
No dia 4 de agosto de 2016, há exatos sete anos, pude viver meu primeiro dia de liberdade depois de muito tempo. Para mim, a universidade, tão importante na minha formação e na minha vida, havia se tornado uma prisão. Isso não importa mais e sim o fato de ter me alforriado e vivido sete anos de liberdade.
Sete anos que me permitiram conhecer muitos sábios e sábias: a doçura de Mestre Brasinha em Cordisburgo, a mais acesa paixão rosiana de minha madrinha Regina Pereira, o amor e o conhecimento da natureza de Mestre Toco Pequi, a história de luta quilombola de Dona Das Neves, a dedicação ao ensino de Leninha do Urucuia, seu Vanderley do Bar da Balsa, que saber viver a vida do jeito que gosta, a existência feita de luta e coragem do povo do sertão de Minas.
Sete dias depois da liberdade, eu me batizava Rosiano no rio Urucuia, aquele que “vem claro, entre escuros”, pela mão de meu amigo Gustavo Fialho, mineiro dos bons. Dali em diante prometi me dedicar à obra de Guimarães Rosa, a quem, depois de muito estudar e passar até a conversar com ele, passei a chamar de Rosinha.
Foi o início de muitas viagens pelo sertão rosiano. Conheci a simplicidade comovente de Andrequicé, Pirapora que vive voltada para o Velho Chico, a imponente Januária da cachaça azulada, Grão-Mogol a cidade de pedra, São Francisco a mais amada pelo rio que lhe dá nome, o rio das Velhas onde foi o Guararavacã do Guaicuí, a linda Itacambira, terra de Diadorim, a Barra da Vaca (atual Arinos), sem falar na alma mater de todo o rosiano: Cordisburgo.
A mais emocionante de todas essas travessias foi realizar o que talvez tenha sido o último sonho de Guimarães Rosa: ficar sentado à beira do Córrego das Pindaíbas (em Paraopeba), na fazenda de seu grande amigo Pedro Moreira Barbosa. Virei uma criança quando ouvi o som do córrego e imaginei que Guimarães Rosa já tinha estado ali.
Minha dívida com ele é infinita, mas acho justo tentar retribuir de alguma forma. Foi por isso que no ano passado criei o projeto “O Urucuia é o meu rio e o Grande sertão é a minha casa”. Foi uma das maiores alegrias da vida de um velho mestre dar um curso de iniciação ao Grande sertão: veredas para jovens estudantes e professores da minha querida cidade de Urucuia.
Nestes sete anos, além de cursos sobre contos, Gabriel García Márquez, Machado de Assis e Proust, me dediquei sem parar ao Rosinha. Dei cursos sobre Sagarana e Primeiras estórias. Contando com a ajuda de bravas turmas de jagunços literários, cruzei o Grande sertão seis vezes: o Bando do Leblon, o Bando da Lagoa, o Bando do Flamengo, o Bando do Rosa, o Bando Diadorim e o Bando Urucuia.
Se os deuses forem bons, começarei a sétima travessia no dia sete de setembro, uma profusão de setes para deixar qualquer rosiano arrepiado. Para mim será a realização de um sonho.
Cada bando fez uma travessia diferente, eu mesmo fui me transformando nesses sete anos, o Grande sertão e suas veredas foram lendo a minha alma, me ensinando a ser “homem humano”.
É com muita humildade e contentamento que venho agradecer, depois desses sete anos de renascimento, a todos me que me ajudaram neste percurso, me ensinando a rota das veredas da alegria, pois: “O vau do mundo é a alegria!”.
Acima de tudo, agradeço a meu mestre maior: João Guimarães Rosa. Se me permitem: meu querido Rosinha, maximé!