“Descobri também outra coisa que provocou em mim uma estranha reação. Antes de conta-la, queria mencionar o fato de que a atmosfera noturna começara a adensar-se; toda a espécie de mistérios angustiosos e indecifráveis pairava no ar. Meus pais dormiam separados. Eu dormia no quarto de meu pai. Da porta que conduzia ao quarto da minha mãe vinham influências inquietantes. De noite, minha mãe tornava-se temível e misteriosa. Uma noite vi sair da sua porta uma figura algo luminosa, vaga, cuja cabeça se separou do pescoço e planou no ar, como uma pequena lua. Logo apareceu outra cabeça que também se elevou. Esse fenômeno repetiu-se umas seis ou sete vezes. Eu tinha sonhos de angústia com objetos ora grandes, ora pequenos. Assim, por exemplo, uma bolinha distante aproximava-se pouco a pouco, tornando-se enorme, esmagadora; ou então fios telegráficos, onde havia pássaros pousados, tornavam-se incrivelmente espessos. Minha angústia ia aumentando até que eu despertava.”
(páginas 39-40)