“Aos seis anos comecei a estudar latim com meu pai. Não me desagradava ir à escola. O estudo era fácil para mim, eu estava sempre adiantado em relação aos outros. Antes de frequentá-la, já sabia ler. Mas ainda me lembro do tempo em que, não o sabendo, atormentava minha mãe para que me lesse o Orbis pictus (Imagens do Universo), antigo livro para crianças no qual havia a descrição de religiões exóticas, particularmente as da Índia. As imagens de Brama, de Vixnu, de Siva me inspiravam um interesse inesgotável. Minha mãe contou-me mais tarde que eu sempre voltava a elas. Olhando-as, eu experimentava o sentimento obscuro de um parentesco com a minha ‘revelação originária’, sobre a qual eu nada dissera a ninguém. Tratava-se de um segredo que eu não devia trair. Indiretamente minha mãe confirmava esta ideia, pois o tom leve de desprezo com que se referia aos ‘pagãos’ não me escapava. Eu sabia que ela reprovaria com horror minha ‘revelação’ e não queria expor-me a uma tal injúria.”
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