“Certa ocasião – eu era ainda muito criança, tinha apenas seis anos – uma tia levou-me a Basileia e mostrou-me os animais empalhados do museu. Lá permanecemos muito tempo, pois eu queria ver tudo, minuciosamente. Às quatro horas soou o sino, indicando que era hora de fechar. Minha tia apressou-me, mas eu não podia me afastar das vitrinas. Nesse ínterim a sala fora fechada e tivemos que alcançar a escada por outro caminho, através da galeria de arte antiga. De repente defrontei-me com aquelas magníficas formas! Completamente subjugado arregalei os olhos, pois nunca vira nada tão belo. Não me cansava de olhar. Minha tia puxava-me pela mão, impelindo-me em direção à saída. Eu ficava sempre um pouco para trás, enquanto ela gritava repetidamente: ‘Menino insuportável, feche os olhos!’ Só nesse momento observei que os corpos estavam nus, o sexo oculto por folhas de parreira! Antes não havia notado esse detalhe. Foi assim que se deu meu primeiro confronto com as belas-artes. Minha tia protestava, indignada, como se tivesse sido obrigada a atravessar uma galeria pornográfica.”
(páginas 37-38)