“Essas ruminações me levaram ao primeiro trauma consciente. Num dia de verão muito quente eu estava sentado sozinho, como de costume, na rua em frente de casa, brincando na areia. A rua que passava diante de nossa casa subia em direção a uma colina, até perder-se na floresta. Podia-se ver uma grande extensão desse caminho. Nesse trajeto percebi, descendo da floresta, uma estranha figura com um chapéu de abas largas e uma longa veste negra. Parecia um homem usando roupa feminina. Aproximava-se lentamente e assim pude constatar que na realidade era um homem usando uma espécie de sotaina negra que lhe chegava aos pés. Vendo-o, senti um medo que aumentou rapidamente até tornar-se pavor mortal. Configurara-se em minha mente a ideia apavorante: É um jesuíta! Pouco tempo antes, com efeito, eu ouvira uma conversa de meu pai com um de seus colegas sobre as maquinações dos jesuítas. A tonalidade emocional, meio irritada e meio angustiada dessas observações, deu-me a impressão de que os jesuítas representava algo de particularmente perigoso, mesmo para meu pai. No fundo, eu não sabia o que significava jesuíta, embora conhecesse a palavra Jesus, aprendida na curta oração.”
Psicologia aos pedacinhos5 de dezembro de 2019