O MEU JESUS
Sou um pagão de carteirinha, li a Ilíada e a Odisséia de cabo a rabo várias vezes, mas nunca passei de uma folheada na Bíblia. Mesmo assim, lembro das histórias acerca de Jesus que minha mãe contava. Ela não era evangélica nem católica, era espírita kardecista, ou seja, bastante cristã.
Posso estar redondamente enganado, mas acho curioso que a palavra Igreja venha de Eclésia, o termo grego que designava a assembléia do povo ateniense, realizada ao ar livre. Desconfio, e posso estar bem errado novamente, que Jesus queria que seus apóstolos fizessem reuniões e não prédios, que difundissem os seus ensinamentos e não que criassem uma hierarquia “eclesiástica”. Na tradição judaica, é sempre bom lembrar que Jesus era judeu, o prédio, a sinagoga, não é sagrada, somente a Torá, somente o livro e seus ensinamentos, suas ideias. Seria estúpido e é estúpido pensar que quanto maior o prédio, maior a fé.
Pra fechar essa minha visão torta e herética de Jesus, eu o vejo como o primeiro hippie. Aqueles longos cabelos, aquela barba, não me enganam, bem como os jejuns, as meditações e toda a sua pregação, que bem poderia ser resumida a paz e amor. Sem falar no polêmico “Dai a César o que é de César”, que muitos viram como uma declaração conciliatória e que eu tomo como uma afirmação da contracultura.
Sei, estou totalmente enganado e projetando sobre Jesus os meus sonhos e utopias. Não entendo nada da Bíblia e cometi erros crassos. Tudo bem.
Ao menos não estou usando Jesus para justificar meus preconceitos (homofobia, machismo e muitos mais), eleger presidentes genocidas e engordar minha conta bancária.
Não tive nenhuma intenção de ofender os verdadeiros fiéis. Se o fiz, peço perdão com toda a sinceridade. Se vocês são verdadeiros cristãos, hão de me perdoar. Ele perdoou os que o pregaram em uma cruz para sangrar até morrer.
Marcos Alvito