/O terno branco de Walter Alfaiate

O terno branco de Walter Alfaiate

Eu era fã do sujeito. Tinha visto ele cantar várias vezes, sempre com aquela postura elegante de quem fora crooner de boate e vivia muito bem vestido desmentindo a máxima de que em casa de ferreiro o espeto é de pau. Mais do que as roupas, sua voz é que era sob medida, grave, volumosa, afinada e bem ritmada, cheia de balanço. Quando ele chegava, esbanjava simpatia e não havia como não sorrir na sua presença. Além de tudo era um exímio alfaiate, como consagrado em um samba de Nei Lopes em que ele diz que seu amigo Walter era capaz de fazer…

“Um terno de alto quilate

Pra casório, pra boate

Até pra operação resgate”

O que era exatamente o meu caso: ia casar pela segunda vez e resolvi caprichar, ia entrar em campo vestindo um terno branco talhado por  Walter Alfaiate. Falei com ele no intervalo de um show, peguei seu endereço e alguns dias depois fui ao pequeno apartamento em Copacabana que lhe servia de oficina e de residência. Combinamos sem dificuldade o valor e ele tirou minhas medidas rapidamente.

Os meus amigos, dentre os quais havia uma turma que tinha samba no sangue, só falavam daquilo. Que eu fosse casar não importava tanto, o espetacular é que fosse vestido com um terno feito por Walter Alfaiate. Um terno branco, é claro. Tem casamento em que todo mundo só quer ver o vestido da noiva, mas nesse caso a roupa do noivo narigudo arriscava roubar a cena. Tudo graças ao carisma de mestre Walter Alfaiate.

Pois bem, o tempo foi passando, os preparativos para o casório foram sendo feitos, estava tudo pronto, exceto o famoso terno. A noiva insistia em que o noivo fosse em Copacabana dar uma olhada, ver como estava indo a coisa. O noivo, com confiança absoluta na arte de Walter Alfaiate, alegava que só iria lá faltando uma semana, que era o dia da entrega do terno combinado anteriormente. A noiva bem que avisou.

Uma semana antes da cerimônia, parto pimpão pra Copacabana, animado para finalmente experimentar meu terno “de alto quilate”. Encontrei Seu Walter Alfaiate abatido e triste, chateado por não ter conseguido fazer o terno a tempo, embora tivesse tentado, como testemunhava o esboço todo riscado que ele me mostrou. Devolveu o dinheiro e desolado pediu muitas desculpas.

O jeito foi partir para o plano B. Fui a uma loja de roupas e comprei o mais lindo terno branco que lá havia. Não falei nada com ninguém. No dia do casório a noiva apareceu belíssima em seu vestido. E o narigudo aqui entrou de terno branco, camisa branca, sapatos brancos. Tudo ao som Jorge Ben.

Os amigos, maravilhados, vibravam, só pensavam naquilo:

– Que lindo terno fez o Walter Alfaiate!