Essa é uma história boa pra contar em tempos de espera aparentemente sem fim. 1979. Eu era um garoto de 18 anos revoltado com a Ditatura Militar. Foi a pior notícia da minha vida (até então) saber que eu teria que “servir ao Exército”.
Fiz as contas e descobri que seria um pesadelo de 300 dias. Busquei papel, uma régua e uma caneta vermelha. À época não havia computador pessoal então fiz à mão 300 quadradinhos devidamente numerados. E a cada dia que se passava, dias de humilhação, estupidez, brutalidade e da mais pura arbitrariedade, à noite eu chegava em casa e tinha ao menos o prazer de riscar mais um pequeno número.
O papel ficava pregado na parede e ao levantar eu olhava para ele como que dizendo: – 243, hoje eu vou acabar contigo!
Sim, tudo passa e três centenas dias se passaram. Enquanto os meus colegas se reuniam na praia para solenemente queimarem seus cartões de cabelo, voltei silenciosamente para casa e com uma alegria inenarrável risquei o número 300.
Isso tudo vai passar. E teremos a aprendizagem proporcionada por estes dias, sejam lá quantos forem.