“A disposição mental, existencial, espiritual, a que ela [poesia] se dirige, chama a compartir o mundo sem reduzi-lo superficial e pesadamente, à simplificação, a ter com a linguagem uma relação não meramente instrumental, a aderir ao espanto da enormidade da vida e da morte (em vez de se agarrar a soluções generalizantes a serem atiradas contra quem se desvia), a encarar os múltiplos vieses dos desejos (em vez de escondê-los na perseguição aos outros), a vibrar o destino da coletividade (em vez de limitar-se à manutenção dos próprios privilégios e da própria cegueira obstinada). A guerra policiadora que categorias mentais reativas vêm declarando contra a arte e a cultura, politizando-as por exclusão, traz à tona, na verdade, a nova urgência da dimensão política de que elas se investem nesse quadro desculturalizante.”
WISNIK,J.M. Maquinação do mundo: Drummond e a mineração. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.