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Três sonhos

Gosto tanto de sonhar acordado que quase não me lembro do que sonho dormindo. É uma pena, claro, fico imaginando o que o meu inconsciente não apronta com total “liberdade” para criar. Mas de vez em quando, muito de vez em quando, talvez uma ou duas vezes por mês eu me lembro de um sonho. Hoje, resolvi escrever porque acordei me lembrando de dois, com certo detalhe até. Algo tão excepcional deve significar alguma coisa, então aqui estou.

O primeiro sonho acontecia numa favela bem íngreme, aquela com vielas que sobem feito caminho de cabra, um labirinto de sobe-e-desce. Não sei o que eu era, mas estava acompanhado de um policial ou soldado e era obrigado a tomar parte em uma operação cujo objetivo eu desconhecia. E envolvia o porte de um fuzil que eu ficava manipulando sem jeito, sem saber como segurar e pensando se seria obrigado a usar aquilo. Enquanto subíamos, passamos por um rapaz histórica-sociologicamente negro segurando uma arma que era o dobro das nossas, parecia pesadíssima, tipo armamento pra derrubar avião. Olhei para o policial ou soldado que me conduzia e vi que ele nada disse ou reparou. O rapaz também, ambos viraram os olhos, um para não ver o outro, ou vendo e não achando nada demais. Foi isso, basicamente. Chegamos a um lugar alto, onde havia outros policiais, todo mundo carregando armas potentes. Mas ao que parece ninguém sabia bem o que fazer.

Em seguida, veio o segundo sonho. Eu estava lá pelos lados do Méier, numa escola pública. Ela parecia parada no tempo e o telefone ainda era daqueles de enfiar o dedo para discar. Mas as pessoas eram gentis comigo. Estava ali para conversar com a diretora. Minha ideia era montar um clube de leitura para os estudantes da escola. A diretora não sabia se iria dar certo, eu também não, mas estava disposto a tentar.

Claro que há aí uma oposição entre o modelo da guerra e do confronto e o caminho da cultura e da educação. Mas tem mais. É que no dia anterior eu também havia sonhado e me lembrado do sonho. Estava em um grande prédio, no apartamento de dois amigos queridos, que são namorados. Estavamos nos divertindo e rindo muito com uma brincadeira cujo objetivo não lembro, mas que envolvia ficarmos em fila indiana, agachados feito sapos, com as mãos no ombro do amigo à frente. O bacana era a alegria que tínhamos.

Agora, interprete quem quiser.