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VELHO

Há quem diga que o problema maior está nas juntas, como se a existência fosse uma porta com dobradiças enferrujadas. Outros reclamam que não são mais os mesmos,  incapazes de perceber, depois de tantos anos, que a mudança é a regra do jogo. Pior talvez sejam os que pensam em recuperar a juventude, como se ela fosse um carro rebocado a ser liberado depois de pagas as devidas multas. Alguns e algumas acreditam em soluções cirúrgicas: cortar, implantar, modelar. Ou farmacêuticas: tintas, suplementos vitamínicos, cremes mágicos, pomadas milagrosas. Um imenso número não tem tempo de pensar em nada disso. A vida para eles sempre foi feita de cada dia, de cada hora de trabalho duro em busca do pão.

No meu caso, só tenho, até agora, uma coisa de que reclamar. A repetição dos papéis, dos enredos da comédia humana. A maioria cabendo na frase bíblica tão adorada por Machado de Assis: “É tudo vaidade”. Que ganhou uma versão 2.0 em carioquês na boca do Lobão quando Lobão: “É tudo pose.” Só mudam o cenário e os figurinos. É como se eu tivesse que assistir à mesma peça sendo continuamente reencenada ano após ano.

Até de mim me canso, das minhas obsessões imutáveis, cada vez mais patéticas.

Há quem goste de seres humanos, apesar de tudo.

A esta altura do campeonato, acho que prefiro os passarinhos.