/HISTÓRIAS DO ALVITO – Um davizinho contra vários GOLIAS

HISTÓRIAS DO ALVITO – Um davizinho contra vários GOLIAS

HISTÓRIAS DO ALVITO – Um davizinho contra vários GOLIAS
Criando expectativas que jamais seriam cumpridas, foi um bebê gordinho, louro e bonito. Depois assumiu sua verdadeira forma: magrelo, ossudo, estilo Tarzan do alfaiate da música de Noel Rosa.
Com a idade, arredondou e, para o bem da saúde adotou a auto-tortura voluntária: correr na esteira feito hamster, encarar os aparelhos de musculação, enfim, tudo para manter funcionando o motorzinho 6.0.
Veio o pânico pandêmico e ele ficou mais de um ano sem cruzar as portas da academia de ginástica. Ao retornar se defrontou com um sério problema: os malhadores kamikaze!
Sempre homens, em sua imensa maioria jovens e inevitavelmente imensos, não gostavam de usar máscara, sempre deixando o nariz de fora. Descartada a hipótese de um narcisismo nasal, restou a explicação de que eles pouco se importavam com a própria vida e menos ainda com a vida dos outros.
Um approach direto, confrontando-os face a face era algo indesejável e listado pela Organização Mundial da Saúde como uma forma muito dolorosa de suicídio.
Davi só teve que vencer um Golias, mesmo assim atirando de longe. Já o nosso davizinho encarava um exército de Golias, suados e de camisetas cavadas.
Tentou uma intermediação, mobilizando os “professores”, coloco entre aspas porque, a não ser que você seja uma moça bonita de pernas grossas, eles não têm muito interesse em te ensinar alguma coisa.
Começou então o teatro. Os “professores” iam até os Golias e estes recolocavam suas máscaras no lugar. Por dez minutos. A partir daí os professores evitavam olhar para os naso-kamikazes.
davizinho entendeu que aquilo não funcionaria quando viu um Golias entrar na academia com o nariz em riste, vero estandarte de negacionismo ou estupidez, com perdão da redundância. Depois foi saudar a dupla de professores e, curiosamente, dois pares de olhos não foram capazes de ver o óbvio, ou melhor, o nareba.
davizinho resolveu então usar sua melhor força, aquilo que tem dado a ele casa, comida e roupa lavada nos últimos 40 anos: as palavras.
Acontece que a vetusta instituição musculo-recreativa tem um aplicativo com uma rede social própria. Alii davizinho publicou:
“CLASSIFICADOS. Se você é homem, jovem, forte e gosta de malhar com a máscara debaixo no nariz, venha para a Academia X. Aqui é o seu Paraíso: direção não toma providências e os professores fingem que não vêem. Caso alguém sofra o contágio e morra de Covid, não se importe, afinal todos vamos morrer de algo, não é mesmo?”
Recebeu várias curtidas e comentários favoráveis, todos de mulheres, seres mais evoluídos que conseguem compreender para que serve uma máscara em meio à epidemia mais mortal da história da Humanidade.
A surpresa maior: dois dias depois, viu todos os Golias devidamente domesticados, com suas máscaras devidamente colocadas. Pareciam até animais racionais.
Agora só falta pedir que parem de usar aquelas ridículas camisetinhas cavadas.
Mas sei que esperar deles algum senso estético é mais difícil do que um davizinho derrotar uma porção de Golias.