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Mais uma do Ciro

MAIS UMA DO CIRO

No caso do Prof. Ciro, a máquina de escrever era uma espécie de extensão das suas mãos. Trazia tudo batido à máquina: suas aulas, palestras, apostilas e sobretudo os inúmeros livros que escreveu. Quando eu via um original dele datilografado, reparava na força com que pressionava as teclas, deixando o papel literalmente amassado pelas letras. Imaginem a prática que ele tinha, quanto tempo da vida dele foi passado diante da máquina trabalhando. O amor por sua profissão reverberava em tinta e papel.

Com a invenção do computador, do dia para a noite as máquinas de escrever tornaram-se uma curiosidade. Primeiramente sumiram das lojas. Depois, tornou-se difícil até mesmo comprar uma máquina usada ou consertar uma defeituosa. Enquanto isso, Ciro continuava aferrado a sua amiga de sempre, que tantos serviços lhe prestara. Certa vez me disse brincando que qualquer dia teria que invadir um museu para roubar uma máquina de escrever.

Não foi preciso. Um dia, conversando com sua (e minha) querida amiga, a Professora Sônia Rebel, ela questionou Ciro. Disse a ele que não entendia o apego à máquina de escrever e a resistência ao computador. Logo ele, sempre tão moderno, sempre tão à frente? O computador permitia fazer muita coisa importante e útil para a sala de aula, para os alunos dele. Ciro arregalou um pouco os olhos, mostrando que havia acusado o golpe.

Fez tudo a seu estilo. Na semana seguinte, contratou alguém e com a humildade do principiante, teve aulas de computação. Logo logo dominava o “monstro”, como gostava de chamar o computador. Passou a escrever e a fazer muito mais com o computador: usava-o para a escrita hieroglífica, que antes Ciro desenhava à mão, para fazer gráficos e tabelas e muito mais. Ele nunca fazia por menos. Se era para fazer alguma coisa, fosse tocar piano, dar aula ou mexer no computador, Ciro buscava sempre a excelência.

Desde pequeno, seu telescópio sempre apontou para as estrelas.