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A cozinha mágica de Dona Gê

Histórias do Alvito (de 2a. a 6a., quase sempre depois das 7:07)
 
A COZINHA MÁGICA DE DONA GÊ
 
Dona Gê é mineira de Brumadinho, cidadezinha de uma região mineradora ao sul de Belo Horizonte, hoje conhecida em todo o mundo por causa do museu-parque de Inhotim. É casada com um baiano do sertão de sorriso largo e alma generosa chamado Seu Jô. Dois anos atrás eles resolveram abrir um pub. Foi um sucesso, mas Dona Gê queria algo mais tranquilo e recatado e transformou o espaço em um restaurante.
 
Mais do que restaurante, é a projeção dos sonhos culinários de Dona Gê, que gosta de criar novas comidas quando está totalmente sozinha e cantando bem alto pra chamar a inspiração. Apesar da doçura, há uma certa melancolia em sua voz. O pub e depois o restaurante foram uma forma que ela encontrou de manter acesa a chama, de não perder a vontade de viver depois que perdeu uma filha de 14 anos. Hoje, diz ela:
 
– Não tomo mais nenhum remédio, estou liberta.
 
A comida de Dona Gê é uma síntese de tradição e modernidade, como cabe a esta senhora que é formada em Letras e pode falar em linguística no meio de uma conversa sobre alimentos. Tome-se a base da comida mineira, em uma releitura com toques orientais. Há uma infinidade de molhos e especiarias. Cada um dos pratos é uma aventura, do boi bêbado ao escondidinho de inhame, passando pela farofa de limão, bananas ao molho de romã e outras deliciosas peraltices. A tradição pura e simples também comparece numa costelinha que se dissolve na boca, nos doces caseiros e no café passado na hora, já que Seu Jô não deixa ninguém beber café velho.
 
Passei a infância ouvindo minha mãe a cantar: “é uma casa portuguesa com certeza, é com certeza uma casa portuguesa”. A casa de Dona Gê é uma casa mineira, não há a menor dúvida: hospitalidade humilde e sincera, prosa tranquila e atenta e aquela alegria em receber bem.
 
O prazer em ir lá é tão grande que a gente até entende o trocadilho que dá nome ao restaurante: “Ponto Gê”.