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A PRAIA DO DISCO VOADOR

Calma, não é filme de ficção científica.

É que mesmo antes do comevida19 eu já chamava minha casa de disco voador. É um apartamento simples de quarto e sala, fica no terceiro e último andar de um prédio pintado de azul claro em Santa Teresa. Aqui vivemos eu, o menino de doze anos e Ilha, a gatinha. Embora o menino seja um bocado bagunceiro, a convivência é boa.

Por que disco voador? Primeiro porque um disco voador obviamente tem que ter tudo que seja necessário em uma viagem de longa distância: comida, materiais variados e, sobretudo, bons livros, música e filmes. Mas não é só isso, é desse meu disco voador do 301 que eu alço meus vôos da imaginação, vivo em outras épocas e até em outros planetas.

E a praia? vocês perguntam. Ora, até uma pequena nave espacial pode ter suas sutilezas, não é? Vivemos aqui desde 2016 e só agora notamos certas coisas. Por exemplo, o horário exato em que dá praia no sofá, ou seja, em que o astro-rei banha de luz o retângulo coberto por uma colcha e que fica junto à janela.

Somente com essa abundância involuntária de tempo passado entre as escotilhas é que percebi outro fenômeno, também relacionado ao sol: a variação do azul durante a tarde, os efeitos especiais do entardecer e a transição do dia para a noite.

É pouco, eu sei, vocês esperavam algo bem mais espetacular. Mas sabe-se lá quantas surpresas este meu veículo espacial ainda me reserva?

No mínimo, no mínimo, vou virar um extraterrestre bronzeado.