AINDA…
Era um adolescente para lá de tímido, com receio de grupos, festas e seres humanos em geral. Sua vida social era mínima. E sua vida amorosa uma utopia. Duas vezes por semana experimentava uma alegria intensa. Ia às aulas do curso de Inglês. Não que amasse tanto assim a língua de Shakespeare e dos Rolling Stones. É que lá havia um par de olhos verdes e a dona deles, chamada Eliane.
Eliane destoava de toda a turma por suas opiniões firmes e por uma inteligência fora do comum. Além disso era uma linda moça, pequenina e de uma beleza capaz de iluminar uma noite de lua nova. As nossas opiniões em sala, sempre politicamente contundentes, eram muito semelhantes. Havia uma afinidade no ar.
Mas aquele adolescente se achava magro, ossudo, narigudo, feio, desajeitado. Isso não o impedia de ser completamente apaixonado pela morena. Só não havia coragem para dirigir a palavra a ela. Todo intervalo era aquela aflição, a vontade de iniciar uma conversa e aquela vozinha lhe dizendo: “Não seja ridículo, imagine se ela vai querer alguma coisa com você”.
Os anos se passaram, o curso de Inglês terminou e Eliane era apenas uma acridoce lembrança. Eis que um dia, tomando a barca de Niterói, encontra uma ex-colega de curso de Inglês. Depois das preliminares de praxe, ela atira a queima-roupa:
– Por que você nunca ficou com a Eliane? Todo mundo sabia que ela era louca por você…
Eu não sabia se ficava feliz em saber que estivera à altura daqueles olhos verdes. Ou se ficava triste por ter sido tão estúpido. Leitor de ficção científica que sou, tive vontade de gritar:
– Onde está a máquina do tempo? Quero voltar a 1977 o mais rapidamente possível…
Quarenta anos depois… ainda dói.