AS SAUDADES QUE NÃO TENHO
Para João Daniel e a inesquecível turma de 94
Em um almoço prazeroso de um dia de céu azul, um mui querido amigo me pergunta se não tenho saudades da universidade. Da universidade presa em seus podres poderes? Da universidade torturada pelas exigências sem sentido da hiper-especialização? Da universidade voltada somente para si própria? Da universidade-linha-de-montagem de artigos, dissertações, teses? Respondi serenamente que não.
Minha falta de saudade, entretanto, não se deve a tudo isso. As saudades que não tenho derivam da certeza de ter feito o máximo durante trinta e dois anos. Em cada aula, diante de cada turma, me entreguei de corpo e alma. Ri. Chorei. Aprendi. Quem sabe ensinei. Mas nunca me poupei. Sempre mostrei as entranhas, sempre deixei as veias abertas, sempre arrisquei tudo, o tempo todo.
Ao contrário do que se pensa, só se sente saudades do que não se viveu.