AS SETE CHAVES
Parece que foi ontem. Um garoto cabeludo que amava Bob Dylan decide cursar História. Recebe o conselho paterno: seria melhor uma sólida e bem remunerada carreira no Banco do Brasil. Enfrentou o pai pela primeira vez: – Vou fazer aquilo que eu amo.
Depois, a graduação, com seus percalços por ser um estudante avesso à falsa autoridade, sem respeito às hierarquias acadêmicas. Sabe-se lá como, milagrosamente passa no concurso e torna-se professor universitário aos 24 anos e três semanas.
Trabalha 32 anos com muita dedicação, alegria e prazer de quem se sente um peixe dentro d’água na sala de aula. Fora dela, nem é bom comentar.
Quando pode, consegue sua alforria. Na mesma semana recebe um generoso email da Chefia pedindo que retire suas coisas com urgência, coisa de três dias, da sala que ocupava há anos. A direção da casa também informava que não haveria espaço para professores aposentados. Ela não sabia que a pressa com que queria se ver livre de mim era a maior das homenagens.
Vi-me às voltas com um molho de sete chaves. Não sei mais para que servem. Não lembro que portas abriam. Para mim, são um amuleto. Elas me lembram que já estive trancafiado naquele lugar sete vezes. Agora sou livre sete vezes: não tenho reitor, não tenho departamento, não tenho chefe, não tenho horário, não tenho disciplina, não tenho lattes pra preencher e, principalmente, não tenho saudade alguma daquela prisão.
Por isso chamo minha humilde página de Universidade LIVRE do Alvito. Aqui não se precisa de chave, as portas para o conhecimento estão abertas sete vezes.